Tínhamos
conversado a tarde
ao ouvido um do outro.
Os pássaros,
loucos,
sublimes,
narcisos,
iam mirar-se no rio
à velocidade do bando.
Tu abriste os braços
ao encontro do vento,
abriste as mãos,
abriste os dedos,
abriste um grito:
porque é que os pássaros
nunca voam devagar?
E ardias,
ardias nas minhas mãos.
Enquanto
falavas aos pássaros,
eu observava-te o rosto,
os lábios abertos num espanto,
os olhos abertos
pelas divagações do bando,
a pele aberta pela luz do vento,
e ardendo,
ardendo nas minhas mãos.
Nunca te amei tanto
como no ápice
da tua exortação
aos pássaros.
Tínhamos acabado
de ser eternos
nos lábios um do outro,
e íamos levar a eternidade
até ao fim
de sermos carne,
para além de sermos carne.
E eu a prender-nos,
eternamente efémeros,
na miragem de água
dos fios do sol.
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