São como nossas, as lágrimas,
São como gente, as nossas lágrimas
Lentes criadas de inevitável, esculpidas
Em vida, em almas são, como só elas
Levitáveis, entre o fim e o todo, entre
Mim e o fundo de mim próprio, serão
Sensações conscientes como são sempre,
Ou a promessa frágil de quem naufraga
Nas mesmas estéreis lágrimas com que
Me lavo, imundo e inviável como o mundo,
E julgo eu que se pode lá caminhar, mudar
De rumo, afundar rente ao porto, comum
Na muralha da minha dividida atenção.
São como nossas as lágrimas dos outros,
Acima da linha dos ombros, sonhos serão
Sempre sonhos, cardeais fidalgos, pontos
Finais, parágrafos de uma aristocracia
Parada e fria, assim como o brilho de
Um farol distante e a maresia do mar
Pouco amigo, indiferente digo eu fechando
Os olhos e perdendo a realidade concreta
No que digo ou no que sou “levado-a-ver”,
Nas lavradas lágrimas dos outros.
Joel Matos (Março 2023)
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