Prefiro rosas púrpuras
Prefiro rosas, papoilas, a morrer por algo
Que não posso definir realmente,
Nem sei explicar o sentido, o modo
E a doçura, o relevo das folhas, o ópio
É a saudade que tenho das roseiras bravas,
Pintadas como se fossem curvas figuradas
Dedicados a alguma encarnada Deusa egípcia,
Fazendo de conta que existiu por mim,
E que eu próprio criei, embora seja também
Minha por direito de irmão, a única verdade
São os meus cinco sentidos saudosos,
Daí a lembrança dos espinhos verde-sangue,
Os que não cultivo e os cultivados,
Menos reais que os pinheiros azuis mansos,
E as cores do campo, únicas e com
Suave gosto a flores sem serem
Realmente isso, é tarde para morrer
De novo de amor humano, tal a minha
Devoção às flores do campo, relvados, tingidas
De vermelhos e brancos, rosas-papoilas,
Mirtilos, framboesas, diospiros, fresas,
Prefiro rosas a morrer por algo fora de mim,
Como se fossem malmequeres dos meus instintos,
Guardo-os, guardava-os onde se vissem melhor
Por dentro, assim me vissem ind’agora
Sofrendo do que não sei explicar,
Pode nem ter solução, remédio a esperança
De entender a vida com a definição das rosas
Púrpuras, se desfazendo uma a uma, sorrindo
Pétala após pétala, ironia do absurdo
Parecer realidade o facto falso e a versão
Fictícia, imitando o natural, o ruido e no fundo
A transcrição exagerada das rosas,
Representa o meu estado real de alma agora,
Despido do que me contraria e do que esqueço,
Do que havia, prefiro rosas púrpuras a cactus.
Jorge Santos (31 Dezembro 2020)
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