Desgraçado
Serás um desgraçado
Onde irei desabafar
O triste enfado
Quando este me atacar.
Nada importa a qualidade
Da rima que é improvável.
Deixo-te apenas a saudade
De ser Saudável.
Meu espírito está doente,
Infetado pl'o pensamento
Para partilha sem ente.
Sejas tu a voz da minh'alma
E registo do Sonho
Que nunca acalma.
Poesia
A poesia escreve-se do coração.
A poesia é sentimento de calma.
A poesia é apenas Paixão,
Palavras maiores que a alma.
Vazio
Vazio, desinspiro-me fácil
No teu ventre dócil
De aconchego eterno...
Durmo certo que voltarás
Assombrando-me com esse querer
Sem querer.
Muuu (ponto final)
A vida é poema estrambólico,
Sem rima, sem rumo,
Fado quase alcoólico,
Obra sem prumo...
As rédeas são a consciência
Olhando, observando,
Tentando a omnisciência,
Insconsciente que nela nunca se vai estando.
Somos estes que espreitam pelos olhos atentos!
Homens quase bovinos,
Lutando contra sentimentos
Na vida matutinos.
Somos canibais do próprio couro,
Somos carne para o matadouro.
Querendo
Quero isto, aquilo
E acoloutro,
Quero aquilo
E mais outro.
Quero sempre
Sem querer
E quererei
Até morrer.
Quero sem porquê,
Sem saber,
Sentimento que não vê...
Quero tudo,
Tenho nada,
E nada mudo.
Delírios
Sei que somos mais
Do que simples delírios
Daqueles sempre fatais.
Sei que somos menos
Do que simples delírios
Que sempre temos.
Somos qualquer coisa
Mal amanhada
Que para aqui anda apeada
Sem saber onde poisa.
E se um dia vier a saber
Será hora de morrer.
Céu
É fácil pregar o valor.
É difícil pisar essa praia
Cuja areia queima já com o alvor
Que na primavera faz crescer a maia.
Perdidos somos do fim ao começo
Desta viagem sem final certo.
Pergunto-me se mereço
Ter juizo aqui tão perto.
Somos do grão ínfimo
Que compõe as estrelas.
Pois façamos a gentileza de no íntimo
Nos inspirarmos nelas.
Soutros
Ah corpo moído
Pouco são!
Quanto de ti caído
Seria meu se de outros não?!
Curiosa infelicidade
De haver felicidade
Nas dores próprias
Da vontade alheia.
Passa-se a força
E nunca a vontade,
Vão-se as dores,
Fica a saudade.
Que ingrata
Que ingrata
Esta vida desnaturada
De sentido mentecapta
Que de tudo sabe a nada.
Somos peão sem rainha
Num xadrez eterno de ameaça,
Iludido na sorte sabendo que a não tinha
E sem mais nada fugindo de desgraça...
Não mereço o triste fado
Que me apresentam certo
Sem direito a ser zangado!
E valha-me o quê
Se estou vivo e triste
E não sei porquê?
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