O Selo
Esta noite lambi o selo, no exacto momento em que pensei ser errado lambê-lo.
Segui na carta encaixado entre o dito colado e o envelope em pêlo.
Nem escrevi remetente e em vento repente segui na missiva. Era carta demente, mas de louco que sente e nada ofensiva.
Tinha lá dentro um jardim, três quartos de mim e algum pigmento, se soubesse que assim, sem regras nem fim, tinha-lhe juntado cimento.
Só me restava voar e seguir a planar até ao escrito destino mas é fácil errar quando as leis do ar não são o que domino.
Gritei direcções e alguns palavrões e segui a viagem, três voltas no ar e caí devagar entre um rio e a margem.
Molharam-se as cores e algumas flores que se sentiram regadas e quiseram ficar na carta a morar entre as palavras plantadas.
Foi com a corrente o meu quarto demente colado no selo, era a parte que sente e assim de repente prefiro não sê-lo.
Rui Henriques
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