Nascido de ouvido

 

Nascido de ouvido

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Nascido de ouvido

 

Atravessa a ponte.

-Não!

Então vem a nado.

Mas olha que te cansas!

Espera pelo barco.

Não te esqueças do bilhete.

Olha que vai ser rasgado.

Esconde-te do revisor

Para não seres apanhado.

 

Já estás deste lado?

Não te esqueceste de nada?

Volta atrás antes da chegada.

Espera!

Está aqui ao meu lado.

Não é isto?

Anda.

Foge da enxurrada.

 

Vês aquela montanha?

Não a subas…

Nunca conseguirás tal façanha.

Sobe antes à árvore.

Tem fruta suculenta

Que sacia a fome sedenta.

 

Ai não queres?!

Olha essa magreza.

Enche as peles…

Combate a fraqueza.

 

Vais fugir?

Não corras.

Olha que tropeças,

Cais,

Esmurras

Esfarrapas

Torces

Ou partes os ossos…

É uma tristeza!

 

Levanta-te.

Enche o peito de ar.

Respira sem suar.

Vai à margem.

Lava as feridas.

Dá duas chapadas na cara

E faz-te à vida.

 

Lança o isco…

Olha o cardume!

És pescador?

Mostra o balde.

Nem peixe,

Nem sequer água.

Olha!

Lá vai uma mosca.

 

Queres ser um não?

Haha

Ou um “a mim não”?

 

És um não do não

E é melhor concordares, senão….

 

Não sei onde vais!

Esse mapa nem é daqui!

Ai tens GPS?!

Avariado com certeza.

 

Pede ajuda.

Deixa de ser orgulhoso.

Quem nega ser ajudado

É apenas um despistado.

 

Ai agora saltitas!

É de dor?

Com lágrimas escondidas

A verter no olhar

Hás de mesmo um dia

Conseguir lá chegar.

 

Ricardo Sousa

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