Não é tempo para estar só…
Depois de um dia de trabalho típico de uma segunda-feira “ranhosa” Eva precisava desnuviar, sentou-se confortavelmente no sofá e colocou os auscultadores, ligou on no computador, começou a ouvir “i Won’t let you go” de James Morrison e em simultâneo assistia ao vídeo. Ficou profundamente intrigada com esta melodia, absorvia a letra e devorava com os olhos as imagens da jovem descalça e simplesmente vestida, com uma combinação de renda em tons de pastel, que se ajoelhava e deitava sobre o asfalto preto, áspero, duro e frio.
Pura contemplação….a mensagem entranha-se na mente de Eva e atinge o seu coração com a força de um abraço muitíssimo apertado, que a impede de falar, mexer, apenas consegue ver e ouvir!
Há poucas coisas que conseguem arrebatar Eva de surpresa, mas de entre elas encontra-se a música. Mas não qualquer música, Eva é extremamente seletiva. Quando acontece é como se tivesse encontrado um novo ou velho amigo e ali fica tempo indeterminado a aprecia-lo, a CONVIVER, a descobrir-lhe novas facetas e a tentar interiorizar cada momento para o guardar no seu enorme armazém de memórias, que coleciona de forma secreta. Eva não tem boa memória, mas como é muito sensitiva, aprendeu a “catalogar” tudo de forma curiosa, usando a intuição e associando a cada experiência uma sensação, uma cor, aroma ou imagem. Assim quando quer aceder aos seus ficheiros basta-lhe fazer uso do mecanismo de “insight”. Muito útil, mas arriscado nas situações menos felizes da vida, as sensações são sempre sentidas de forma muito pura e intensa, pelo que nem sempre se dispõem a ser confrontada com algo que a perturbe. Neste aspeto Eva tem ainda um longo caminho a percorrer, porque a vida é preenchida de acontecimentos, todos eles necessários, com aprendizagens importantes que não devem ser desperdiçados por inúteis mecanismos de defesa e fuga. Misteriosos são os caminhos da vida e eles sempre nos levam a onde precisamos, o número de vezes suficientes até aprendermos, assimilarmos e evoluirmos!
Inicialmente Eva escuta duas palavras que parecem predominar, a primeira “black” e a segunda “alone”, mas à medida que a melodia se desenvolve começam a formar – se mais do que simples associações de palavras: “…não é tempo para estar só…” ou melhor ainda: “…não te deixo cair….eu …não te largo….”! A tradução pode não ser a correta, mas Eva sabe que são mensagens como estas, que no momento certo… salvam vidas…..redirecionam intenções…. abrem os olhos da alma à escuridão do sentimento solidão… libertam o coração de correntes e cadeados e neutralizam o peso do “céu” que se abate sobre essas almas frágeis, atormentadas por dores reais ou imaginárias, mas cujo sofrimento é tão atroz, que se fecham dentro delas próprias.
É absolutamente esmagador o número de Seres Humanos, que neste preciso momento são a personificação desta jovem de combinação e Eva comove-se, mas sabe que existe alternativa para muitos deles, se estiverem dispostos a pedir ou aceitar ajuda.
O vídeo revela-lhe também como pedir ou aceitar ajuda parecem ser tarefas hercúleas e mesmo que exista alguém, em frente dos olhos da jovem da combinação de renda e dos seus ouvidos repetindo: “Say those words…open up your heart” para ela, todos parecem fazer parte de uma multidão estranha, curiosa, apreensiva, mas também, com a capacidade de se tornar compassiva através de algo tão simples como o exemplo. Assim no vídeo o moço detentor de uns maravilhosos olhos claros e voz dócil deu o exemplo, ajoelhou e ali se deitou ao lado de quem não se conseguia levantar! E pelo exemplo toda a multidão espelhou o comportamento e a atitude que veio do coração, tal como o cantor todos se baixaram ao nível daquela que precisava de ajuda e deitaram-se todos no mesmo chão! E isto é oração VIVA!
Já há uns tempos que Eva se tinha convencido de que vivia uma profunda crise de fé e até a máxima que regia a sua vida: “Milagres acontecem todos os dias basta acreditar!” parecia ter perdido aos seus olhos um encanto que teimava em não encontrar, mesmo quando diariamente tinha provas do contrario. E este era mais um exemplo, enquanto descontraía ao som de uma melodia que lhe segredava que não é tempo para estar só, Eva abriu o seu entendimento a um significado e propósito maior na sua vida, reencontrou a sua parte divina, descobriu uma nova forma de oração, que lhe mostrava o amor mais puro que existe, o amor incondicional, o amor ao próximo como a nós mesmos, sem julgamentos, sem perguntas ou respostas, apenas a presença e o desejo de estender a mão ao nível de quem precisa de ajuda! Afinal estamos todos de alguma forma ligados…
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