Hoje escrevo-te mesmo sabendo que nunca o irás ler. Dirias que estavas cansado para o fazer, que tem palavras a mais. Ficava feliz se te pudesse ouvir dizê-lo. Dói saber que nunca mais vou chegar sequer perto de ti. Que amor cego o meu... Foi a sede de acreditar que me empurrou, foram as recordações que nunca me deixaram negar-te um sim. Como caí em mim, não sei. Feliz dia esse em que esta agonia me fez querer abandonar o vício de ti. Talvez não saibas mas eu ainda choro. Talvez não imagines o quão madura e sóbria me tornei. O quão racional me obriguei a ser. Talvez não saibas o que me mantem ainda de pé. Nem sequer imaginas as noites em branco, os dias sem comer, a agonia, a dor da alma. Este sopro... Anima-me saber que estás bem quando secretamente te visito. Quando um dia partires, parte de mim irá contigo. No dia do meu último adeus, sei que vou chamar por ti. Mas sei também que vai ser em vão. Aprendi muito sobre o amor nestes últimos meses. Fez-me bem estar sem ti. Hoje lembro-me com saudade mas sem mágoa e desejo verdadeiramente que sejas feliz. Não sei se te amo ou se te quero apenas bem. Afinal, o que é o amor? E sim, eu estou prestes a partir e a deixar para trás tudo o que ainda nos liga. Hoje não quero mais deixar de viver. Aprendi a viver com esta pequena dor que já nem sequer me dói. Passado este tempo, sinto-me crescer. Sinto-me renascer. Já consigo ver amor nas pequenas coisas. Sinto que aquele 'eu' cego e surdo, se foi definitivamente. Começo a sentir-me viva !!! Tenho vontade de chegar longe. Deixei para trás tudo o que não me fazendo mal, nunca me fez realmente bem.A minha batalha agora é outra. A verdade é que há dias em que me falham as forças e é nesses dias que tenho a certeza de ser gente. Provavelmente ja outro alguém te faz feliz e já nem te lembras dos meus olhos negros. Arrumei a casa. Se um dia te encontrar por acaso ou destino, vou acenar-te de longe e fingir que irei passar o resto do dia bem. Arrumar a casa é o oposto de acabar com ela. Arrumar a casa faz-nos bem, faz-nos viver melhor dentro dela. Ou então podemos arrumar a casa e partir. Arrumar a casa para quem vier a seguir. Domesticá-la. Evitar ver-te é o mesmo que evitar sentir-te. É gostar de mim. Lavei a alma, mudei o corpo. Mudo-me em breve de malas e bagagens. Deixo esta terra e esta casa de onde te escrevo sem saberes. E sim, continuas a ser o único (mesmo que já nem o sejas.).
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