Me perco em querer,
Um querer sem perca,
Não é melodramático,
Definitivo e comum
E eu sou um banal
Costureiro, faço da
Rotina um “bem-estar”,
E do estar “mal-uso”,
Substituo a prática,
Dos gestos, pela ideia
Que deles tenho,
Fundamentalmente
Sou um engenheiro
De indisciplina interna,
Realizo-me irrealmente
Como fosse um vicio,
Que não quero querer,
Sendo eu o querer por
Defeito e por sevícia,
Não posso perdoar-me,
Me perco em querer,
Sem querer exatamente
Nada, tudo me foge,
Tudo se me desagarra,
Inclusive a sensação,
Quando é pensada,
De querer alguma coisa,
Infindavelmente pura,
Infinitamente alta,
Como um pôr-de-sol,
Redondo em Malta,
Curvo em Alepo, Gaza,
Granada, peco inclusive
Por não querer-nada
Fora eu mesmo, indesejado
Por decreto-lei, recuso-me
A estabelecer acordos,
São simpatias falsas, pouco
Práticas, uma maçada
Que excluí dos meus hábitos,
Não quero o que outros
Possam querer, a astúcia
Não é “o meu forte”,
Nem a paciência se dá comigo.
Jorge Santos (14 Dezembro 2020)
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