Má Casta
Sendo de excluída e má casta,
Sou vinho d’pessoa alguma,
Porque só eu, a mim me brindo,
Sou o que me embriago
De berros e do mau talento,
Apenas me pesa, oca do pego
Ao pulso, a náusea da mal
Parida, da avulsa frase mal eleita,
Infeliz, cansada de nada dizer.
Presas à minha bombástica boca
Com’o escárnio de mim próprio,
Rombas Agulhas como que me picam,
Escalavradas, severas, ásperas
Insinceras a tempo inteiro,
Pobre-diabo, doente louco, pouco
Generoso, sem merecida esperança,
Morto vivo de infelicidade, doença
Crónica, lesmo sem alma
Ou lar, enlameado d’lama, ranço
E mosto, cama de engaços, algemas
Houdinescas, as chamas evoluem
Sem formas, envolvem-me indistintas
Como num voo tonto, quem sou eu
Que me vejo moscardo alado
Sendo da extinta mais bera casta
Humana que veio à Terra rastejando.
Joel Matos (12/2022)
Comentários recentes