Ler é sonhar o sonho dum outro,
Ler é sonhar o sonho doutro,
Invejo quem que não sonha
Simplesmente o sonho dele,
Pois não sei se se reproduz
Um sonho sonhado por mim nele,
Eu nunca sonharei sonhos
Doutros, não me cabem
Nem jamais saberia como
Caber neles à noitinha,
Rejeito o sonhar alheio, se leio
O que me faz é não dormir,
Assisto desperto ao ritual
Que os sonhos tecem na mente,
Assim como o pêndulo,
Que regula o tempo que se vai
E a mim me aborrece,
Aborrecem-me sonhos sem de mim
Serem e ler não é sonhar,
É pensar que se sonha um sonho
Destinado a ser coisa outra,
Ler é sonhar um sonho morto,
Sonhar é tão claro que separa
Do real o que não sendo assumo.
Falso o sonhar que não sou eu
A ter, sonho sonhado em primeiro
Não em segundo ou terceiro,
Defino os meus sonhos pela
Novidade e estranheza não pelo
Conteúdo que se explica,
Mas por nada terem a dizer
Ao outro, ler é sonhar um sonho
Parado adormecido e porque se
Folheia ao de leve, não sofro
Com ele, ignoro-o, só isso
É não ler …
Jorge Santos (03/2017)
http://namastibetpoems.blogspot.com
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