Português
Ainda me lembro
as eternas brincadeiras de criança,
as belas tarde fagueiras,
as noites de lua cheia,
quando corríamos atrás dos vaga lumes
para iluminar a lâmpada pendurada na figueira,
onde brincava de casinha
quando era ainda tão pequena.
A brasa do cigarro que pensei
ser um vaga lume e que me dissestes
para pegar naquela noite escura,
em que pouca luz tínhamos na nossa rua...
Os brinquedos que fazias,
recortando lata vazia, soldando e
pintando, colando figuras dágua,
para imitar as que existia.
O carrinho com motor
que fizestes com tanto amor
e que tinha até acelerador.
As estórias que ouvíamos de nosso avô e que eu dizia,
"Quando crescer, vou escrever
para nunca mais esquecer".
Da bruxa do disco - voador,
que correu atrás de você,
e te fez passar pela porta de vidro
e depois disso,
nunca mais aparecer...
Quanto medo eu tinha
do lobisomem que imaginava estar
sempre a me esperar,
quando eu ia na casa da minha avó,
buscar o mata-mosquito que minha mãe
sempre esquecia de comprar e que eu
temia sempre ter que buscar.
Andar à cavalo na fazenda do outro avô,
ver as ovelhas no pasto de manhã,
o leite quentinho na mangueira,
pular a cerca da porteira,
e dar milho às galinhas
que ciscavam pelo pátio.
E tantos outros momentos mágicos
guardados na lembrança,
belas cenas da infância,
que ainda guardo com carinho.
Depois o silêncio,
o relógio parado no quarto,
marcando a hora da partida,
tão criança ainda.
O frio que senti nessa hora,
o som das batidas na porta,
avisando a despedida,
o adeus e depois a saudade
que sinto ainda agora
e a tristeza que me devora
porque sei que nunca mais
iremos brincar como outrora,
suaves tarde outonais
que não voltarão jamais.
E daí onde estás, meu irmão,
sei que ainda ouvirás
o som dos nossos risos
que se perderam quando partistes
para nunca mais voltar...
Débora Benvenuti
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