Deram-me espadas para ir à luta mas sempre me faltou a armadura. Sempre me falaram da massa de que são feitas as guerreiras e eu um dia quis tentar. No início era o verbo, era o não mata mas mói. Abafei a dor e ela parecia adormecida. Nunca fui muito expansiva, nunca me dei a conhecer. Duas derrotas se avizinhavam e o medo de o perder foi enorme. Um medo egoísta, como me disse alguém um dia. Um medo de não saber viver sem ti, sem os teus cabelos brancos e o teu andar trémulo. Sem o teu metro e oitenta de altura e o teu bom humor, que se foi. Sabes, as tuas batatas à espanhola são as melhores do mundo, e eu sinto que já não sou a menina dos teus olhos. Vais ser sempre o homem da minha vida, mesmo que eu um dia já cá não esteja. Tenho medo do teu coração frágil e traiçoeiro. Não deixes que ele te vença ! Penso muitas vezes na dor que te causaria se já cá não estivesse. Será que esse fiozinho que te liga irá aguentar? E eu não sei se teria o prazer da tua companhia. Quando foi a última vez que me ouviste chorar? Diminuir a dor não ajuda. Descobri agora que até a fragilidade da máquina herdei de ti. Ele vai batendo, vai batendo ao ritmo desorientado desta agonia que me anima. Esta agonia com que aprendi a sobreviver. A sertralina é a minha maior companheira. Os amigos ficaram apenas no coração. Fico triste por saber que se algum dia precisarem, eu estarei aqui. Eu estive sempre aqui. Reclamar atenção já se torna um hábito, e eu quero fugir dele. Falta-me a vontade. Sobreviver tornou-se sinónimo de existir. A palidez espelhada no rosto faz notar os olhos negros e fundos que me acompanham. Passos errantes. E as rosas, as rosas amarelas são o único sinal da vossa presença. Ataste-me um cordão ao pescoço.
I'm dead alive !
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