e é nas horas em que não estás
que balanço num voo
que se quebra e se rebenta
entre sombras e sóis
de um dia que não o foi
posso sentir os pés a falharem
o chão que os devia prender
e o frio que amarra os movimentos
o turbilhão no estômago
que antece o incerto
e todos os dias dou-te tudo de mim
tudo o que de divino tenho para dar
mostro todas as cartas
todos os truques
sempre a perder-me
nesses teus rumos que não sei tomar
e nesses dias escrevo-te
versos que nunca irás ler
traços que não podes ver
monstros que não sei guardar
e liberto-os no limbo
das vozes que me atormentam
e me afligem sem me tocar
liberto essas aves negras
que me pairam e me assombram
quando nas horas sou tão só
e tenho em mim tantos eus
que nem sei que nomes lhes chamar
por vezes, meu bem, queria só
o fogo da tua saudade
para acender candeias
e atear fogos
e ser eu essa mesma chama
que espanta esses pássaros
que em mim guardo
mas não me dás lume
para o incendiar
nem lenha que o sustenha
e eu fico
pé ante pé
num fio de um circo
rodeada de aves
que não posso mais soltar
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