Esquema gráfico para não sobreviver à morte …

 

Esquema gráfico para não sobreviver à morte …

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Esquema gráfico para não sobreviver à morte …

 

Por mim, e de minha parte, dispenso-me de comparecer perante a morte tão cedo e em tão solitário lugar de culto, de parecer bem no dia a dia, no concavo do espelho enquanto vivo e me vejo e do acontecer matemático, geriátrico-sistémico, cronológico-depurado complexo, pareço-me e comungo do comum entardecer dos Generais da Roma antiga, dos Reis do Egipto, mas sou apenas um comum acontecimento já acontecido, falo do que ocorreu anteriormente e se sobreviver incompleto e segmento, parcialmente, já não necessitarei de levitar e inventar o da voz demasiado grave, de voar levantado ou levantar a fala até mais não, até não poder mais, não precisarei de precisar mesmo, nem mais de mim, sorrio sorridente – sorrirei ao de leve, senhor do isolamento e da distância, da duração esclarecida do meu tempo presente, inebriar-me-ei de poesia, essa poesia inerente, pressentida, valente, densa e à flor da pele, que só dói se estivermos dentro dela e perto, bem perto e em pelo, o quanto baste para ser uno com a minha dolorosa e sentida forma de suicídio terrestre, tal a inverdade que me rege e pratico.
A tentadora validade gestacional do poeta, só é válida, só e apenas se constrói de uma vez em todas as possíveis e somente aos poucos e a poucos se congrega e se consagra, do desassossego na fala, a tantas outras razões nos cabelos no “pão-de-rala”, por tantas outras ocasiões razoáveis, quando nos mostramos nós mesmos falhos, folhas de lógica sem validade, fora de prazo em mil e um ou mais socalcos soalheiros e vitalícios, vinhateiros da ira em época de colheita, não depois, durante as chuvas e os aluviões, perante as secas, nem antes de reapresentar em lugar algum, cestos cientes, cheios de dúvidas, nessa altura sou eu mesmo e um mais, mágicos agnósticos e brilhantes como a geada, ideólogos da cevada, puro malte quanto a agua irradia de bom grado, o brilho de um regato cristalino, a montanha por descobrir, encoberta de um lado, assombrada por um negro lago, profundo, onde não medra nem fogo, nem um fungo nem pasto, nem uma perca do nilo, um rodovalho, um robalo. Por mim, sou o analgésico mirabolante, a miragem de qualquer substância a mais e de mim mesmo antropólogo crédito, amais valia não passa de algo análogo a isso, depois impregno-me de uma mistura mística e pessoal de ilusão estética-profana profunda, falsamente endémica e monogâmica. Pois sim, o destino não dura para sempre, a submissão ao tempo que sobra, é uma inglória lápide negra e não unicamente ou exclusivamente uma prisão sepultada, abducente da lama, da areia, na praia do desconhecimento descontente, gradual e gráfico. Por mim, sinto, que a diáspora do arredondamento dos sentidos, a metáfora do nascimento, foi produzida unicamente para mim, a pensar em mim próprio e feita do mesmo e grave tecido de que eu fui e sou composto, produzido num tear sem linha nem fio apropriado, porque eu nasci descalibrado, desarredondado, arremedando os outros e morri quando encetei, no momento imediato, fatídico, fálico na altura certa em que comecei a copiar-me, iniciei-a transcrição, a imitação gráfica de mim próprio, o liberto e a permissão são de minha única autoria, embora não sejam plenamente, e o conflito frásico, hemorrágico, a antropofagia fraseológica das minhas próprias partes moles, mais discretas e nobres, hemorroidas de escritor condenado por delito comum, à morte por sossego e por sufrágio universal dentro dele mesmo, o análogo, não dos outros como parceria ser normal e servir de exemplo para “o fora de mim” um diferente lugar do quiosque que ocupo dentro de mim próprio e presentemente, fora da atenção do corpo, mais perfeito e prodigo que o “eu” ao cubo, num emergente esmiúdo de mim. Por fim o romance, a novela intensa, essa não teria argumento, caroço ou enredo nem ação, passar-se-ia apenas na minha cabeça de maçã, na mente de broca, ou na de quem a escrevesse melhor que eu e a intriga seria entre o espírito e a consciência, a intuição consistente e o Arsénio, O “LUPIN”, o enigma que liga os personagens como figuras reais com o escritor fictício , o criador figurante, galã de conto de fadas, das fábulas, ele próprio um personagem secundário, operando débeis canelas, entranhas e cabelos disfarçado de outrem, intuitivo na tarefa de fazer cumprir escrupulosamente um guião e o maior sabedor do conteúdo geral e integral da peça e do meio metro de palco, o sábio do labirinto gráfico e ancestral e o que sonhou ou o que conhece a saída para o outro lado do cosmos, da Galáxia, do mundo cabal e global.
A primeira edição da minha vida será por fim escrita, descolorida e desenvolvida com a ideia de não ser entendida nem por um qualquer psicótico ser de vista turva, com a ilegibilidade rara do que me é mais caro, sem cura, remédio fracassado de óxido de mercúrio e reagente mais calado que o silêncio em minhas veias colados sob pele fina, mas de que vale uma biografia, uma vida sem historia de medo em que tudo pode ser dito e ser tido como superficial porque normal é humano, é o senso comum e não de mim só, o labirinto que me habita, sonho é geral e genérico como a febre do sol e o paracetamol ou o fim do ano em centos de diferentes cidades do mundo mas comum e expressivo para quase todos afinal. Por mim, e de minha parte, dispenso-me de parecer bem, carismático ou altruísta, mundano comigo ou com qualquer parte do meu corpo, incluindo as partes moles da barriga e nos gânglios infectos (…)

 

 

 

 

 

 

 

Joel Matos ( 18 Janeiro 2021)

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