Despedida
Vem!!! Vem, sentar-te comigo ao entardecer
Sentir metáforas, moribundas, de um peito aberto
Rasga de mim, o rascunho desbotado da lágrima
...Erradia de mim, um verso...Ébrio...
... Uma melodia crepuscular...
Retira de mim, toda a ternura, que nunca escrevi
Bebe dos meus olhos, o sal que o mar não tem
O dilúvio serenado em silêncio...
É deste peito aberto
Que partem as naus, de velas brancas
Para fora do meu corpo...errantes
São cais...lenços ao vento
São gritos, agonias...de quem parte...de quem fica
É neste porão profundo
Que guardo riquezas, e especiarias
É nesta alma, despida e nua
Onde guardo, despojos do pensamento
Onde guardo os meus silêncios
E segredos vidrados no gelo
... Perdoa-me alma!
As noites, em que te abandonei ao relento
Moribunda entre leões de pedra
E âncoras calcinadas pelo tempo
II
Vem, vem sentar-te comigo ao anoitecer
Vamos falar, das palavras juntas pelo vento
Vem sepultar, dores e mágoas...amarguras
No jardim do contentamento
Sob a quietude da noite
Dançam estrelas cintilantes
Rodopiam pétalas de luz
Efémero incêndio das almas submissas
Vozes, murmúrios, silêncio
Poesia dos Deuses, prosa dos Astros
Sóbrias neblinas, resplandecentes auroras boreais
Taças de firmamento borbulham
...Brindemos...em silêncio...
Apenas o nosso olhar se toca...
…caminhemos por este viaduto,
Que nos leva ao infinito...
Caminhemos, e contemplemos
A poesia que jamais será escrita.
III
É para lá desta duna, que avistaremos
O céu, e um deserto, sem sombras
É para lá desta duna, que correremos em busca do mar
Em busca de uma sombra, de uma árvore esplendorosa
Onde possamos por fim, descansar e adormecer
Vagueio o pensamento, neste horizonte
Cansado, não me movo...
Apenas o meu pensamento se move
Em busca de um sonho
E da sombra do teu corpo
Vagueio o pensamento
Apenas anseio encontrar o mar
Onde deixaste as lágrimas da minha poesia
O sono vem devagar, silencioso
Oiço o mar...uma onda vem, e depois outra e depois outra
Como relógio que nunca pára
Serenas ondas
Tépidas, como a água, com que lavas o corpo
Para lá desta duna, um farol ilumina a nau
Que me levará a ver o mundo
Que me levará a alma, se morrer aqui
Uma nau de velas brancas
Desafiando tempestades, desafiando os céus
Sou o sonhador alquimista
Procurando a pedra filosofal...
Acordo extenuado, cansado sob o sol flamejante
Caminho de noite, sob estrelas que plantaste
Brilhando orgulhosas no firmamento
Sou o caminhante nocturno
Que jamais descansa o pensamento
Apenas este corpo entorpecido, de tanto caminhar
Sou um caminhante vagabundo
Que escreve os sentidos, nesta folha rasurada
Vem sentar-te comigo ao amanhecer
O sol vem radioso, como a íris de teus olhos
Vem, caminhar de mão dada
Vem, ver o sol nascer no mar...a luz do farol vai-se apagar
O faroleiro irá para junto dos filhos
E eu partirei em busca do mundo...
Este mundo que será nosso
Quando me aventurar no mar
Vou banhar-me, nas lágrimas que choraste por mim
E vou chorar também
Vou embarcar, nesta nau de velas brancas
Enfrentar as tempestades
E desafiar o céu dos Deuses.
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