Caminho

 

Caminho

Português

Passo as noites a saborear com a pele os padrões do meu velho colchão
As suas gravuras disseram-me que os buracos que outrora não existiam já eram pensados
Algumas das molas partidas foram as que proporcionaram as mais fantásticas viagens ao desconhecido
Mas ultimamente é o desconforto de um corpo decadente que vinga no cair da noite
As manchas de suor que o povoam já não cantam em uníssono para felicitar os orgasmos com prazer
Só as vozes que nele ficaram impregnadas com o passar dos anos ali vão viver até ao fim

Passo os dias a evitar as pedras escuras da calçada, como todos os seus padrões
As brancas disseram-me que embora lhes fosse indiferente, era possivelmente outro surto psicótico
A areia que preenche costuma-me cumprimentar sempre de manhã e põe-se logo com histórias nostálgicas do tempo do fundo da ria
Caminho cabisbaixo mas o desconforto da luz solar junto com os olhares ferozes da população remetem-me instantaneamente de volta
De volta ao meu velho colchão, onde eu escrutino todos os segundos passados ao desabrigo dessa viagem a tentar perceber onde é que errei
É nele que eu guardo todas as vozes que colho nas minhas saídas... E é lá que elas vivem até ao fim...

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