Português
Só o vento que não passa
Para fazer entrar o canto
De um pássaro, tão nómada
Quanto eu, nesta suspeita
De que há sempre uma pedra
Que morre antes de ser casa
Como todo o estrangeiro
Que vem de longe, também eu
Hei-de partilhar a chama
De onde nasce o ardor do marfim
O rumor do caminho estreito
Que adormece até os ossos
Não sei de incêndio tão puro
Como as coisas que perdi
E entraram nos meus olhos
Para partir para mais longe ainda
Sem nunca assinalar o valor
Que está no muro que me cerca
Ao fim da tarde, o vento
Regressará para nos molhar
E o pássaro vai apegar-se
Aos frutos para tu e eu
Conhecermos o sabor do sempre
Talvez morrer como folhas molhadas
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