Anoiteceu

 

Anoiteceu

Português

I

Ainda posso ser verde em muito, mas eu sei uma verdade.

Todos têm as suas dúvidas,

crenças e lembranças,

que fazem rir e chorar.

Esta verdade é pensada e sentida, estou a declarar.

Eu tenho uma dúvida, vaga e precisa, no entanto, posso garantir: é coerente.

A minha dúvida? Eu dela não fujo, acho-a linda.

Se tu fugiste, não te arrependes? Ela faz parte!

Ah, é por isso que a acho tão linda!

As flutuações de emoções que ela reparte.

Persisto nela, olho-a nos olhos e vejo como me é familiar.

Foi (é) minha companhia,

a correr e a caminhar.

Tais vibrações inabaláveis... isto é magia!

 

II

Sentimentos como a saudade, criada por uma curta ausência, não sei não se é amor.

Esta ilimitada paciência,

que ainda estou a explorar, não sei não se é amor.

Toda aquela chama, que do vento muda a direção,

que é tão intensa que racha o chão...

sim, a que faz viciar... não sei não se é amor.

Um fundo no polposo órgão vital,

as enormes e divagantes ondas do mar, que desarmonizam o recital,

não sei não se é amor.

Arrepio inexplicável, esse arrepio fugaz,

não sei não se é amor.

Carinho que satisfaz,

que alegra e faz a caixa escarlate saltar, não sei não se é amor.

O nosso vibrar e a vontade dele partilhar, não, ainda não sei se é amor.

 

III

Um dia vi-te, um momento bastou.

Para ti, o meu coração voou e se despedaçou.

Não há rancor! Como ondas, altos e baixos tivemos.

Cumprindo a regra, de dia para dia o sentimento compusemos,

como as notas musicais perfeitas,

que agora se encontram desfeitas,

daquela música que me cantavas

numa melodia única e encantavas.

Não te peço que penses em tal,

apenas que te flua tão veloz como o desejo que nos uniu até ao final.

 

IV

Algo ficou ferido, algo ficou perdido.

É a minha consciência, ela ficou com os sentidos trocados!

Desapareceu num nevoeiro…mais nada vejo, mais nada significa nada.

O meu controle? Não, ele também se foi?!

O meu coração foi voando e no teu foi cair,

Fiquei com asas quebradas, de lá não consegui sair.

Porém, o ar usa o teu perfume e surgiu o esquecimento dessa mágoa por momentos…

Estes que são tão lentos.

Olhos pausados se iluminaram, mesmo no escuro da escuridão,

“E se recair em tal tentação?”.

Há algo nesse teu movimento tão inesquecível,

Tão apetecível.

“Sim, vi-te!”, fiquei agitada! Foi uma pitada…uma pitada de açúcar no meu dia!

Tão hábil de dar-me uma indecifrável alegria. Vivo no mundo da fantasia.

 

V

Quando me sinto só, fecho os olhos e é quando estás mais presente,

um novo mundo aparente.

É doentio, essa coisa de conseguir perdoar.

Cada sonho que passa, um vazio invade o teu lugar.

O orgulho perdeu-se, comprazer também pertence.

Ficar? Nem se pergunta.

Só te pedi, "não me deixes nunca".

Pedi e juraste, mas chorar, chorei eu.

Com o tempo, a jura desvaneceu.

Contemplando as estrelas,

quero-me entregar, mais perto de ti chegar.

A vida continua...muito sonho até à lua!

O vento me traz o que eu quero esquecer!

Admito, isto faz-me fortalecer.

 

VI

Olhei a lua, o céu, o mar e só o teu sorriso pude imaginar.

Só uma fotografia tua para me contentar.

É só mais uma nostalgia que reaparece…

Só um baú de recordações que permanece.

Ai! Remói-me saber que nisto não pensas…é tão difícil ter de o encarar,

De a mágoa evaporar!

Peço: ela que vá para um sítio encantador,

Onde o amor não é cego, não tenha um fim áspero e assustador.

Que ela encontre um sedativo ou que desidrate,

Tudo com facilidade.

Que disparate!

A consciência me reencontrou: isso não é amor, não é a realidade.

 

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