- Suicídio
A madrugada suicidava-se em gemidos contra a cal
Os corpos desnudos guardavam ainda a frescura do linho e o fogo da seda.
De espanto morreram os pássaros
ao descobrir que lhes tinham
roubado o medo.
2.
Dou-te
um frémito dos meus ombros
para inquietar o teu sono
a destreza dos meus dedos
para ateares as estrelas
o orvalho dos meus seios
para aplacar os teus medos
as bagas do meu sorriso
para vestir-te as manhãs
3 Desejo
Contido,
o desejo,
cala na boca,
suplica ao olhar.
Secretas, exaustas
retraem-se as ondas
de tanto querer
nas calhas das horas
na sombra do beijo
murcham açucenas
sem amanhecer
4 Ó meu amor quem disse que a morte
era o final de tudo, se em teus braços
ao morrer renasço em cada abraço?
5. Entre os fios de chuva, bicos de pintassilgos na rebeldia do outono, lembram aconchegos em dosséis nocturnos onde os beijos ardem.
6. Dentro do corpo todas as bocas, todas as vozes moendo um segredo guardado. Nos braços o cansaço da procura. Em todos, apenas um corpo consentido.
Comentários recentes