O Zêzere corre, sereno, singular aguarela entre as fragas, numa estranha moldura
Dois corvos traçam, no fundo azul, os passos de dança de um ritual de sedução
Libelinhas salpicam, na água, beijos impregnados do doce perfume da ternura
As cigarras aborrecem as margens do rio, num cântico que se repete, sem solução
O vento dedilha nas agulhas dos pinheiros, em acordes de uma suave melodia
Um fado cujos versos rimam paisagem, paixão, espelho de água e liberdade
Um barco abre, na placidez das águas, uma ferida branca em perfeita simetria
E as ondas descobrem, não sei como, que as margens as aguardam com ansiedade
A noite desce ao rio, são horas de dormir e, decidida, diz ao sol para apagar a luz
A lua, nova e irreverente, ajuda a noite a espalhar no Zêzere um manto de negrumes
Aqui e além, pequenos sobressaltos de prata reflectem as estrelas em ponto cruz
E o rio adormece com vagar, embalado pelo estonteante bailado dos vaga-lumes
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