Aguarela

 

Aguarela

Português
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O Zêzere corre, sereno, singular aguarela entre as fragas, numa estranha moldura

Dois corvos traçam, no fundo azul, os passos de dança de um ritual de sedução

Libelinhas salpicam, na água, beijos impregnados do doce perfume da ternura

As cigarras aborrecem as margens do rio, num cântico que se repete, sem solução

 

O vento dedilha nas agulhas dos pinheiros, em acordes de uma suave melodia

Um fado cujos versos rimam paisagem, paixão, espelho de água e liberdade

Um barco abre, na placidez das águas, uma ferida branca em perfeita simetria

E as ondas descobrem, não sei como, que as margens as aguardam com ansiedade

 

A noite desce ao rio, são horas de dormir e, decidida, diz ao sol para apagar a luz

A lua, nova e irreverente, ajuda a noite a espalhar no Zêzere um manto de negrumes

Aqui e além, pequenos sobressaltos de prata reflectem as estrelas em ponto cruz

E o rio adormece com vagar, embalado pelo estonteante bailado dos vaga-lumes

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