É fácil apagar as rasas pegadas,
Difícil, porém, é caminhar
Sem pisar no chão a sombra
Nossa, cúmplice do corpo,
Não a podemos deitar fora,
Nem a deixar no chão, onde mora
E onde a pisamos, está
Acostumada a ser humilde, humilhada
No equilíbrio quasi perfeito,
Entre o vazio da alma
Minha e o chão despojo, aconchego
Do nada que passo sem rasto,
É fácil apagar as pegadas,
Mas ninguém dispõe flores,
Onde não há vasos nem berços, só
Terra estéril, solo e pedaços
Que juntados não fazem um paredão,
Mas cabem justo numa pegada inteira,
Sob os meus velhos sapatos
Com buracos tão junto ao chão
E aos ratos da sola na biqueira,
É fácil apagar meu rasto,
Cúmplice do que nada sou,
Mais fácil é apagar o que nada faço,
Pra mudar este reles mundo meu,
De vaso ou calçado
Ou de uma simples menção na lápide,
Do cemitério público, junto aos legumes,
Sem vagas nas altas campas, apenas nas rasas,
Ignóbeis, estúpidas, esburacadas no chão,
Onde morro sempre à hora da “siesta”
Dentro do roto sapato que me não
Dão e nem é meu, o outro
É do ladrão que o roubou do público
Careca e apagado…
Jorge Santos (01/2015)
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