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Faltou tentar o impossível.
Após aquele olhar gélido que ela lhe entregou, ele voltou-lhe as costas. Caminharam em sentidos opostos, ambos com a certeza que desta vez seria para sempre.
Da boca dela voou um sopro de ar, mudo -"Adeus". Tentou outra e outra vez, mas apenas conseguia movimentar os lábios com o silêncio a encher-lhe a voz. Recordou-se das últimas palavras gritadas "Nem mais um som, ouvirás da minha boca".
"Raios me partam"- pensou. Ela sabia que aquela palavra lhe iria esquartejar a alma. No entanto, os Deuses castigaram-na, instilando o seu próprio veneno. Era agora uma mulher fria, seca, muda.
Ele, depois de alguns segundos a caminhar em passos largos, desatou a correr. Tentava apagar do cérebro as palavras que acabara de escarrar naquele rosto perfeito:
- Nada! Tu és nada! Não sinto nada por ti!
Corria cada vez mais rápido. Um formigueiro começava a entorpecer-lhe os pés, as pernas, todo o corpo, ..., o medo apoderou-se dele lentamente até tombar no chão paralisado.
- "Nunca mais vou voltar a senti-la no meu abraço!"
Eles tinham tentado tudo, pensavam...
No reencontro falaram durante dias seguidos ficando roucos.
Foderam infinitamente no quarto de motel, onde exaustos se evaporaram na última gota de luxúria.
Voltaram a casa. Aconchegaram-se num brilho de ouro onde o limite dos seus corpos deixou de existir. Amaram-se, fundindo-se num único ser semelhante a filigrana soldada e entrelaçada.
- Amo-te tanto!
- Existo em ti, amor!
Mas ao raiar de um dia, a verdade voltou, bateu na porta e exigia uma resposta à pergunta nunca feita.
Ele tentou ocultar. Ela tentou perdoar.
Silenciaram-se nas palavras ocas da cobardia e do orgulho.
Afastaram-se.
Ela só queria ouvir da boca dele "Não te magoarei mais, nunca mais!". Ele apenas desejava perder a lembrança da culpa.
Esqueceram-se da cumplicidade...
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Eva Vieira
https://m.facebook.com/Um.dia.por.Eva.Vieira/
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