Já fui palco

 

Já fui palco

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Já fui palco

 

Já me disfarcei de palco
e de cortina
Já me gritei alto
e em surdina
Por tantas vezes tentei, deixar de ser e existir
Mas as vozes que em mim moram e me gritam
São como rajadas de vida que me agitam
E mandam-me prosseguir…

Já fui palco vazio
Quase morto
Peça sem aplauso, nem brio
Sobrado torto…

Mas as vozes que em mim se abrigam calmamente
São como rajadas de gente
Caminhando p'ra bom porto…

Já fui palco floreado
Coberto de palavras e emoção
Já fui texto encenado
E era eu (tudo) o que trazia no coração.

Mas as roupas que vestia, despiam-me
E as palavras que proferia, feriam-me
Julgava–me eu camuflada...

Já fui palco,
Cortina,
Peça encenada…

Já despi as mágoas e o preconceito
E fiz das lágrimas de sal e sangue: mel e doce.
E jurei convictamente à vida, por mais amarga que ela fosse
Adoçá-la com as gotas de verdade que trago no meu peito.

 

Sandra Fernandes

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Comentários

O fingimento tem uma base

O fingimento tem uma base real. Este poema ilustra, perfeitamente e de forma bela, esta ideia. Parabéns.

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