Olá, Rochainne!
Escrevo esta carta, entretanto não sei se terei coragem de enviá-la. Afinal, são palavras ou meras grafias sem intenções melodramáticas, mas com profundos sentimentos que expressam desabafos, lamentos e recordações.
Bem, não sei se esta confissão é adequada neste momento, todavia creio ser oportuno ao dilema que me açoita. Você pode até concluir diante das indagações que sutilmente aqui exponho, porém não haverá a oportunidade da resposta correta, pelo menos, neste momento, é o que transparece. Lembre-se: é sua escolha, no entanto, existem marcas.
Ainda hoje, pela manhã, diante do espelho enxergo as cicatrizes que não permitem esquecê-la. É minha cara, sou sua marca registrada.
Será fantasia de uma realidade que me definha ou náufrago dos meus sonhos e desejos ardentes? Vasculho o meu ego incessantemente e incansavelmente não consigo respostas plausíveis.
Acho que estou enlouquecendo porque conforme avanço nestas linhas e entrelinhas, eu me deparo com seu olhar libertino e sinto algo sem explicação penetrando pelas veias do meu corpo e acentuando meu batimento cardíaco. Neste agora, reações indescritíveis assaltam meu corpo fragilizado pela ausência de sua sedução.
Ao instante de segundos, vem à lembrança suas carícias indecifráveis no ápice do diálogo dos nossos odores, consequentemente, minha mente induz a uma visão surreal transportando-me ao cume do delírio que se materializa diante deste papel, transformando-o em uma tela. A seguir, visualizo você, eterna Rochainne, com uma matreira preguiça, deitada e seminua, exibindo sua silhueta através de movimentos harmoniosos e sensuais.
Que droga! Esta ilusão me excita. Merda... Onde está você? Relembro os afagos e descontroles racionais dos nossos suores; viajo no túnel do tempo sem piedade da minha própria alma.
Droga..., droga..., droga!
Preciso me concentrar para raciocinar e ordenar as palavras, mas, infelizmente, sua simetria perfeita e provocante ressurge das sombras proporcionando ideias e sugestões que aos anjos não são permitidas. E hoje, nem a mim.
Lembro, logo após os passeios, em nosso quarto, delicadamente e muito provocante, paulatinamente, você com seus longos cabelos castanhos claros, aquele batom em seus lábios com desafios impossíveis de conquistas. E, com efeito surpresa, peça por peça de suas roupas lentamente caíam ao chão e, assim, finalmente, descortinava-se um corpo artesanal abrilhantado pelos feixes luminosos dos meus olhos que acentuavam sua divindade carnal. Confesso minha timidez diante desta incontestável beleza coesa e natural.
Eu não conseguia retirar o paletó. Estava preso à exposição tentadora e sublime onde cada movimento era registrado como uma filmagem sem cortes. Sorrateiramente, com seus segredos guardados a sete chaves, característica fundamental de uma deusa, aproximava-se do meu corpo com suspiros que me enfeitiçavam — aliás, até hoje me enfeitiçam e não há sentido omitir o que valeu a pena sentir.
Carrego comigo as sensações de aconchego em seus braços embalando-me com frases loucas pelo desespero incontrolável do amor. Suas mãos deslizavam pela minha pele, pelo entorno de minha vulnerabilidade e me permitia ao prazer enigmático totalmente desconhecido.
Posso mergulhar nas profundezas místicas e afirmar com veracidade: agora sei o caminho ao cordão de prata. Como dizem alguns estudiosos, “ele é a ligação do corpo com a alma e, enquanto estiver ali presente, a vida permanece”. Agora, até minha alma desfruta do mesmo prazer. Ela grita, chora e implora. Ainda está presa ao corpo porque você a alimenta.
Talvez, com esta atitude, demonstro com clareza o quanto você preenche minha vida e, apesar deste afastamento aparente, o meu Eu se mantém hipnotizado pela sua presença, sorriso, encantamento. Sem hesitar, admito de forma avassaladora, que os meus lábios clamam o toque excitante e magistral do seu beijo.
Rochainne, com estas junções de palavras afetivas, e em meio a nossos conflitos; compreendo sua atitude e procuro respeitá-la. Entretanto, agindo assim, subjuga o meu sentimento de forma egoísta sem valorizar os momentos de entrega entre nós. Então, questiono os sussurros em meus ouvidos com palavras mágicas proferidas carinhosamente ao longo da madrugada.
Tenho a plena convicção de que não há como negar ou camuflar as nossas loucuras de amor, as pétalas de rosas e a alegoria fundamental: o vinho.
Então, pergunto: até quando?
Um beijo.
Do seu eterno apaixonado e amante
John
Ele relê o texto, acaricia o papel como se fosse a pele de sua amada e, em silêncio, observa pelo vidro da janela a chuva mansa que irriga o horizonte. Logo a seguir, abre a gaveta de sua escrivaninha e pega um envelope. Dobra o papel de carta e, no momento que prepara para colocá-lo ali dentro, o telefone toca. Ele atende e apenas ouve. Instantes depois, John com palavras carinhosas, expressa:
— Aceito. Vamos jantar e conversar. Beijos.
Nisso, ele desliga, torna a pegar a carta já dobrada e, em tom suave, exclama:
— Rochainne, você nem imagina o quanto me faz falta!
Autor: Roberto Mello/Coautor Antologia Ardente & Caliente - Cuentos de Pasión - Edição Bilíngue - Editora illuminare
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