Sem nada …
O amor não tem campainha
Quando passa, é um comboio
Sem maquinista nem freio,
Despedaça-nos, destroça-nos,
Ferra-nos a meio sem avisar,
É fatal o golpe e profundo,
Mais terrível que da morte
A dor, não é religião nem
Crença, contraditório à sorte
Amar é o ter, como companhia
Da orelha esquerda a cara
Do meio, metade olhando-se
Metade se consente, a minha face
Girando sobre ela própria,
Estender um braço, ligar-me
Aos gestos d’ontem (o soar da sineta)
Atirar o tédio pra debaixo
Da mesa, dar duas palmadas
Na vida, sentir prazer íntimo
Ao ouvir disparates e a ironia
Que é ter fome, estando farto,
Ter entusiasmo desmedido,
Tendo de facto emoção por
Companhia e uma campainha
No ouvido, um comboio no
Coração, a esperança na parte
Do rosto que era só minha,
Sol posto solidão a meias,
A sineta da estação, o comboio
A dar a partida, não sei se uma,
Duas vezes ou os dois de abalada,
Um de cada vez, s/companhia,
Sem nada …
Jorge Santos (24 Fevereiro 2021)
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