Desde quando é que o tangível passou a
Assumir esta forma assim estranha,
De algo que é absurdamente
Incognoscível e, portanto,
Intangível?
Os dias,
Esses correm assim;
Há dias em que tudo se
Torna teorica e realmente real;
Nesses dias, tu serias sempre possível.
Mas
Há também dias lassos em que tudo
É tudo tão desfocado;
Sei lá o que daí vem,
Quanto mais
Para onde
Vou.
Quererei saber?
Essa é a questão que,
De quando em quando, me corrompe.
Se não sei onde estás, como vou
Saber para onde vou?
(Não tenhas medo, saberás
Que quem escreve
Tende para o
Exagero.
E 'exagero'
É provavelmente a palavra
Que melhor combina contigo.)
Tu entendes isto,
Ainda que prolixo,
Porque entendes sempre,
O que eu te escrevo, e não só.
E é por isso tudo isto: porque tu entendes.
Há dias como o de hoje, percebes?
Em que escrevo, escrevo, escrevo
Invento até palavras novas,
Que um dia gostaria de
Tas dizer ao ouvido,
Bem baixinho,
Só para
Ti.
Tu
Hás-de ver
Que ainda se fazem epopeias.
Então eu escrevo, escrevo e escrevo.
Mas por muito que escreva, continuo
Como menininha, a pedir
A cada hora certa por
Quem assumiu um
Pouquinho do
Mundo sem
Sequer
Avisar.
Sabemos que isto
Não valerá de nada
E tão-pouco vale nada;
Mas se existe algo que é
Absolutamente necessário,
Esse algo é o fazermo-nos ouvir,
E esta é a minha forma de te falar.
Já reparaste que há sempre necessidade
De nos fazermos ouvir à pessoa que
Tenta, por sua vez, fazer-se
Ouvir a outrém?
E é assim,
Nestes entretantos,
Que o mundo avança.
Nem sei mas talvez
No fundo mesmo
Só quero que
Me leias
Porque assim eu sei que
Nunca passarás
De apenas
Poemas.
(Será?
Aqui entre nós,
Eu acho que isso
É-me ainda mais feroz.)
Suspeito que, tudo o que queria
Na verdade, era que me
Devolvesses um
Não-sei-quê de
Mim que
Contigo
Ficou.
E por isso
Os dias vão
Correndo assim,
Tal como correm
Os versos deste poema,
Tão pouco decididos, vagueando
Na tentativa inútil de chegar até ti, até que
Desistem.
Porque como vão saber eles a direção
Se não sabem onde
Estás?
Onde estás?
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