~~Alegrias e tristezas de uma noite de NATAL.
Naquela cozinha enorme, nas vésperas de Natal, a minha mãe, penso que com a ajuda da minha tia Filomena, irmã dela, fazia filhós e outras coisas para o Natal as quais já não me lembro o que eram. Estendiam a massa com um rolo e cortavam as filhós. Eu e a Célia também queriamos fazer e chateávamos a minha mãe o mais que podíamos mas ela não cedia. Dizia:
_Vocês têm de ficar a cantar canções de Natal para o Pai Natal lhes trazer os presentes ou ele não traz. Então, nós duas ficávamos sentadas debaixo da grande mesa onde as duas, ela e tia, faziam as filhós, e levávamos horas a cantar com a minha mãe, canções das quais ainda hoje sei bocadinhos....
Depois da ceia de Natal, que por causa de nós sermos pequenas era mais cedo, levavam-nos para o quarto e esperávamos que o Pai Natal ,que já tinha batido lá em cima na chaminé, descesse para deixar os presentes. Os adultos não calcularam bem o tempo e precipitaram-se connosco ao colo para a cozinha para ir ver o que o pai Natal tinha deixado nos sapatinhos. Quase não deu tempo de o Pai Natal subir por completo a grande chaminé sobre o grande fogão a lenha e a minha irmã gritava: Eu vi a perna do Menino Jesus e eu gritava: Pai Natallllllllllll Pai Natalllllllllllllll. Foi emocionante!
O que tinha acontecido foi que o meu pai tinha combinado com um dos guardas de serviço para que entrasse mesmo pela chaminé para provocar todo este alarido ...rsrsrsrsr (Só soube disso muitos anos depois).
Depois do Pai Natal ter desaparecido fomos desembrulhar os presentes. Não me recordo o que eram, recordo-me sim que a minha irmã não reclamou e eu não quis os meus presentes porque o Pai Natal se tinha enganado e deixado os de outra criança (pensava eu). Eu tinha pedido só um fogão a petróleo, que tinha visto numa montra, para fazer a comida para as minhas bonecas. Chorei até adormecer e foi o Natal mais infeliz que tive até aos meus 35 anos de idade. Os meus pais tentavam convencer-me que o Pai Natal voltaria no dia seguinte mas de nada resolveu a tentativa, mal acordei no dia seguinte voltei a chorar, não me conseguiam consolar.
Depois do almoço e porque era feriado, fomos dar uma volta de carro e eu sempre chorando com um desgosto enorme. O meus pais diziam:
_Hoje não pode ser ( pudera, estava tudo fechado e não existiam centros comerciais rsrsrs), mas amanhã ou depois o Pai Natal traz-te o fogão.
Foi muito mau para mim e família, coitados, aturar a choradeira e as lojas fechadas. No dia seguinte à noite quando me deitei com a minha irmã, dormiamos juntas, os meus pais disseram:
_Deixa a tua botinha aí no tapete pode o Pai Natal deixar alguma coisa!
Quando acordei, de manhã, tinha o meu tão desejado fogão a petróleo e gritei de alegria.
Acho que nunca estimei tanto um brinquedo como esse, durou muito tempo.
Quem me dera voltar a esse tempo...... Obrigada aos meus pais que morreram tão novos, a mãe 45 anos e o pai 53. Mil vezes obrigada porque fui sempre muito feliz ao vosso lado e dos meus irmãos.
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