~~O quarto misterioso...( 3 anos de idade)
Podem não acreditar mas tenho muitas lembranças dos meus 3 anos de idade.
Foi nesta idade que me lembro de viver em Almada e tenho histórias para contar...
Meu pai foi transferido de Faro (antes tinha estado em Portimão na GNR vivendo em Silves onde nasceu a Célia, a mais velha) para o Quartel do Beato em Lisboa onde era (rádio telegrafista, trabalhava com código Morse) mas ficámos a viver em Almada.
Sei que o meu pai se afastou da família do pai dele e nunca quis nem dinheiro nem a casa que herdou em Silves quando o pai dele, Anselmo da Cruz Ataíde faleceu, porque ele, o pai, nunca tinha aprovado o emprego na padaria, a participação na Orquestra de Silves e sobretudo o casamento repentino pelo Registo civil com a minha mãe.
Teve de partilhar casa com outro colega dele, esposa e filho, em Faro, a casa onde eu nasci. Em Almada alugaram um quarto a uma senhora, para ajudar a pagar a renda de casa. A casa tinha 3 quartos : o meu e da minha irmã, o dos meus pais, o tal quarto alugado, uma sala de jantar, uma marquise que para mim era enorme (talvez não fosse, mas eu era tão pequenina, que acho que era....)
É engraçado que me lembro bem da mobília de quarto da minha mãe e não me lembro nada do que existia no meu , talvez porque me fascinava o toucador com os perfumes, uma enorme caixa redonda, cor de rosa, com Pó de Arroz (que cheirava tão bem) e os espelhos em frente dos quais eu me "pavoneava" com os colares de pérolas brancas que estavam também aí num guarda jóias. Depois escondia-me dentro guarda fato para brincar com a mala de mão da minha mãe, de verniz preto, com um fecho rendilhado em metal. Outras vezes calçava os sapatos dela, de salto alto mas, para que eu não os estragasse ela atava com uma lã, aos meus sapatos, uns carrinhos de madeira que tinham sido de linhas de costura.
É óbvio que me recordo destes detalhes pq a mala quando ficou velha, foi-me dada para brincar e a mobília foi passando de casa em casa conforme o meu pai ia sendo transferido.
Na altura era muito curiosa gostava de "cuscar tudo", era traquinas ao máximo, mandona, respondona e gorducha....Chamavam-me de forma carinhosa "refilona" e tinha 3 anos, coitadinha de mim!
Como era curiosa, quando a hóspede da minha mãe não estava em casa resolvi espreitar o quarto dela. Mexi em quase tudo e vi lá uma coisa que nunca tinha visto (estranho pois havia uma casa de banho)... Vi um lavatório em louça (Soube mais tarde que aquela geringonça era um lavatório) com um balde por baixo, resolvi empoleirar-me nele para ver o que tinha dentro, parece que era de louça, tombou caiu em cima de mim e partiu-se!
Não me lembro se fui castigada, soube mais tarde que era uma peça cara de pó de pedra (dizia a minha mãe) e ela teve de o pagar.
Esta foi uma das muitas peripécias que aconteceram no meu terceiro ano de idade (pois só vivemos em Almada 1 ano). Achei esse ano o mais preenchido da minha vida com coisas boas e más. Parece que num ano consegui viver uma eternidade e tudo o que refiro aqui que escrevo ainda hoje tenho as imagens na minha cabeça......
Na foto - O meu pai quando mudámos para Almada
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