Conheci um homem pela internet, que me adicionou no face e me disse ser leitor dos meus poemas. Ele devia andar pela casa dos sessenta anos. Viu uma foto minha, em que eu usava umas botas vermelhas e me reconheceu quando eu passava pelo calçadão da minha cidade. Então pediu meu celular e me perguntou se tal dia eu não passara pelo calçadão usando as tais botas vermelhas. Eu afirmei que sim e que sempre passava por ali, pois morava à duas quadras do calçadão. Então ele me convidou para jantar. Aceitei, pois percebi que se tratava de uma pessoa honesta. Ele ficou de passar no meu apto para sairmos. Quando o interfone tocou, desci para abrir a porta e qual não foi a minha surpresa ao perceber que ele se parecia muito com a minha avó, já falecida há muitos anos. Levei um susto tão grande, que fiquei sem palavras. Ele percebeu e perguntou o que estava acontecendo, se eu não havia gostado dele ou se havia desistido de sair. Eu recobrei o fôlego e disse que não, que poderíamos sair. Ele foi um perfeito cavalheiro. Abriu a porta do carro, se desculpou por não possuir um carro mais novo e eu disse que não havia problema nenhum. Foi gentil, deixando eu escolher o restaurante onde iríamos jantar. Foi muito simpático, mas aquela sensação de que ele se parecia com a minha avó, ainda me incomodava. Saímos muitas vezes, na verdade todos os dias para almoçar e jantar. Eu já não era dona do meu próprio tempo, pois ele me buscava no trabalho e só me levava de volta na hora que eu tinha que trabalhar. Foi uma noite na minha casa e fez um jantar maravilhoso. Disse aos meus filhos que queria namorar comigo. Perguntou se eu aceitava e eu disse que sim, mas logo me arrependi. Passei um bom tempo pensando em como dizer isso a ele. Não queria magoá-lo e decidi que a melhor coisa a ser feita era não atender mais o celular, E foi o que fiz, mas ele insistia em saber por que não queria mais sair com ele. Continuamos a sair juntos. Pensei comigo que era bobagem. Ele não tinha culpa de se parecer com a minha avó. Depois de algum tempo, desisti dele, mas não falei o motivo real. Nunca mais nos vimos, mas sempre que lembro desse episódio, a primeira coisa que surge em meu pensamento, é a figura da minha avó.
Débora Benvenuti
Recent comments