Por um sussurro.

 

Por um sussurro.

Portuguese

Sabes onde me encontro? Sentada no banco de jardim, onde o teu olhar repousa no meu ombro e me aconchega, onde o teu toque se torna repreensivo no martírio do que foi contra a lei. Revoltas-te com tão pouco que me chega a parecer tanto... tanto quanto a certeza de que nada pára para que consigas atravessar a ponte, sobre o riacho que te guia ao meu banco predileto de jardim. Esse mesmo onde sou musa dos meus sonhos e muda nos ecos da minha mente. Sento-me, mesmo que o dia seja de tempestade. Não haverá sol a raiar tão belo quanto o de contemplar o teu sorriso.
         Espero-te no fim de um dia cansada. Espero-te em todos os meus dias, na doce esperança de cruzar meus olhos nos teus. De encontrar o alento que me guia, me seduz e me faz saber quem sou.
Inalo o oxigénio desta atmosfera, inspiro-te nos meus sentidos, expiro-te na vontade de te definir em eufemismos. Na ânsia de te querer mais do que ter. Querer-te na vontade de te ter e ter-te por te querer.
Saber que cada sensação de posse poderá ser por um momento apenas, ou por uma vida inteira. Ao caminhar, largo o meu odor pelo percurso e espero-te, no desejo de que sigas as pegadas do meu aroma, que me identifiques sem mas nem porquês. Só porque os teus passos sentem essa vontade, sentem que esse é o trilho secreto.

Como se toda a vida me tivesses respirado e me soubesses detetar pelas ruas do amor... ruas ora amargas, ora doces, onde os nossos sorrisos se re-inventam e toda a magia parece real. Tão real que não são precisos varinhas e chapéus de fantasia pois, tudo se cria naturalmente, como se fosse inato no nosso ser, na junção desta palavra que se assusta com definições objetivas. Quer apenas debruçar-se sobre a imperfeição e equilibrar-se na corda bamba da dança que nos envolve. Sem joanetes e esporões, sem necessidade de tirar o salto alto, porque a dor ameniza com o nosso toque, com a fusão das nossas conjugações. Não há invenções gramaticais, há uma loucura tremenda em conquistar o mundo. Um desejo, mútuo, de enfrentar 1000 medos e inventar ventos e luas... o Sol, esse, seremos nós. Basta abrir a janela, olhar-me ao espelho e ver-te a ti... deixar que a tempestade passe lá fora e que, cá dentro as 500 sombras de tornados sejam a procura do comando que se envolveu nas nossas brincadeiras e se perdeu pelos lençóis.

- Tenho que me ir embora. - dizia-lhe ela.

- Fica só mais um sussurro. (Não, não queria dizer segundo...)

- Deixo-te todos os meus sussurros aconchegados na solidão que habitava no meu peito antes de te conhecer. Entrego-te toda a minha alma, nua, para que a possas colorir, sem medo. O meu corpo grita pelo teu, mas creio que não o chegas a sentir.

- Eu sinto. Sinto-o desde o primeiro dia.

A verdade é que a tua partida me assustava, colapsava-me os poros, acelerava-me a circulação e eu, olhava pela janela, via o fundo da rua e perdia-te ao virar da esquina. De te conhecer melhor do que a palma da minha mão passei para uma viagem ao estrangeiro, como se nunca tivesse estado nesse país, nem conhecido os seus detalhes... Deixei que partisses.
[6 meses depois...] Hoje, arrumei a casa de ti. Tinha já um pouco de pó acumulado nas molduras que virei para baixo. Sabes, temos tendência para nos acharmos mais espertos que o coração e capazes de o enganar... achamos que esquecemos de um dia para o outro se escondermos os pedaços daquilo que correu mal. 
Ilusões. Hoje, confesso-te, nestas linhas, após 6 meses, nesta minha tremenda loucura de ainda te escrever - limpei-te a sola dos sapatos antes de partires, para que não caísse na tentação de te seguir. Não te segui. Nada mais soube de ti. Até hoje. E amanhã, continuarei a não saber.

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