O jornal que sonhava voar
Era uma vez um jornal antigo que mostrava, orgulhoso, as notícias do último domingo.
Tanta coisa acontecia e tudo lhe contavam. Mas ele, triste, nada via.
Eram histórias de todo o mundo. Algumas tristes, outras alegres, histórias diferentes e histórias iguais.
Mas todos os dias se faziam jornais.
Chegaria o dia em que todos os velhos papéis se iriam transformar.
Ouviu dizer que a palavra certa era ‘reciclar’.
Como é bom poder, de novo, viver. Talvez possa outra forma vir a ter!
Gostou de ser jornal e histórias poder contar.
Mas queria, também, nelas participar.
O mundo poder explorar, as pessoas cumprimentar e mesmo sem asas poder voar.
Quando nisto pensou, a janela abriu-se e uma rabanada de vento pelo quarto entrou.
O vento tão forte soprou
que uma palavra do jornal se soltou.
E depois outra e outra ainda e mais outra.
Até que o jornal em folhas brancas se transformou
e, por fim, pelo quarto fora, também voou.
As palavras saltitavam, soltas no ar,
faziam desenhos, davam as mãos,
para depois as largar.
E o velho jornal, sem sorte, tentava apanhar
Escondeu-se numa nuvem, um arrepio sentiu.
Um pouco molhado de lá saiu
e uma palavra marota, que por perto brincava, dele muito se riu
No ar, fez o jornal mil piruetas, como se dançasse com pequenas borboletas,
feliz, de si próprio, também se riu.
Lá de cima, minúsculas eram as casas e as árvores.
Viu vales e montes para além dos horizontes, conheceu o cheiro das flores e as cores do mar
e esqueceu a pressa de as palavras apanhar.
Sem força, o vento amainou.
Suavemente, o jornal para terra deslizou.
Já tonto, depois de tanto mundo correr,
sujo e molhado, ao mesmo quarto ele foi ter.
As palavras voavam, agora, livres
De outras terras trariam notícias,
de muitos pontos e vírgulas acompanhadas.
O velho jornal era, agora, um monte de folhas amarrotadas
De olhos brilhantes por tantas coisas ver, pensou:
De aventuras eu não me cansarei
E o mundo novamente correrei
De minhas folhas, posso muitas coisas fazer
e mil desejos eu posso ter
Ser barco, avião ou carrossel
Mas de tudo, o que eu mais quero,
é voar como um papagaio de papel!
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