- Levava-te comigo?
- Levavas-me contigo para onde?
- Sei lá. Para todo o lado, para o meu princípio e para o meu fim; levava-te para o momento em que eu deixei de ser eu e tu deixaste de ser tu para sermos nós; para o momento em que paraste a lágrima que caía sobre o meu rosto, a bebeste, e me olhaste como se aquela fosse a última gota de água na terra. Levava-te comigo para além da nossa história…
Ele respirou fundo, tinha medo de a magoar, tinha medo que, um dia, deixasse de ser tudo para ela como ela era tudo para ele. Abraçou-a com força, o seu abraço que englobava todo o seu mundo, todo o seu ser imperfeito. Jamais poderiam voltar a ser imperfeitos, já haviam conhecido a perfeição, ali, um no outro, um com o outro.
Beijou-a.
A ela, aquele beijo parecera-lhe o último. Deixou-se abraçar sabendo que o que acontecera não era um simples momento de dois amantes. Era um momento que ultrapassava o tempo e a história, era um momento que os unia para além daquilo que conheciam.
Tocou o telefone, estava na hora de voltar à realidade, de virar a página daquele capítulo. Ele olhou para o ecrã… era outra vez Teresa a chamá-los para uma realidade que eles queriam ignorar, para uma realidade em que a história deles não podia existir.
- Estou – atende ele, sem, na realidade, desejar ouvir a voz que estava do outro lado.
Para ela, aquele ‘estou’ foi o recordar, o lembrar-se que havia o outro lado, o outro ‘eu’, a outra realidade. Soltou-se do abraço dele, levantando-se ligeira para que ele não se apercebesse da sua ausência, mas era ele quem já estava ausente. Aquele ‘estou’ foi o momento em que ele se separou dela, em que ambos voltaram a ser imperfeitos.
Mas restava sempre o amanhã e o breve olhar de ambos foi o suficiente, que amanhã, sim amanhã, seriam perfeitos. Amanhã a sua história teria um outro final, amanhã aquele abraço não iria ser quebrado, amanhã aquele olhar não seria necessário porque amanhã seriam apenas um.
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