Não sabe se sim, se sopas.
Há dias em que sim. Há dias em que sopas.
Nunca foi rapariga para saber assim as coisas ao certo, logo desde início.
Parece que nasceu com dúvidas. Tens as incertezas de quase uma vida estampadas no rosto, incorporadas no corpo.
Na escola nunca sabia se havia de dividir, ou de multiplicar.
Na pré-adolescência, não se conseguia decidir por calças ou saias.
Na adolescência desconfiava de rapazes e de raparigas, por isso nunca se decidiu por nenhum.
Na fase adulta rezingava com carne e irritava-se com o peixe. Andava à lambada com robalos e à galheta com as costoletinhas do cachaço. O mesmo acontecia com a massa e o arroz.
Também nunca sabia se havia de pintar os olhos ou os lábios.
Se calçava tacões ou saltos rasos.
Nas emoções então era um trinta-e-um; chorava com coisas simpáticas e ria a bandeiras despregadas com assuntos constrangedores. Andava sempre às avessas.
Até no nome se enganava. Nunca sabia se se chamava Emília Maria ou Maria Emília; tinha sempre de verificar no cartão de cidadão.
Nunca comprou carro porque não se soube decidir por Honda ou por Alfa Romeo.
Também nunca foi numa excursão porque ficou indecisa entre Benidorm e Palma de Maiorca.
Nunca rezou grande coisa porque nuns dias era católica e noutros nem por isso.
A sua vida foi cheia de nuncas. Talvez. Nem por isso. Pode ser que sim.
Há quem diga que morreu num dia. Mas que afinal morreu no outro a seguir.
No cemitério há várias lápides com o seu nome.
Uns dizem que é pelo corredor da direita onde descansa a sôdona Maria da Conceição; outros dizem que é pelo da esquerda, onde jaz, em jazigo sofisticado, a Dra. Maria Amália da Cunha e Sá e Silva e Andrade e outros tantos.
Mesmo na morte é assim.
Uns dias sopas, uns dias sim, às vezes não, e a maioria das vezes, nim.
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