Portuguese
Fui criada em uma época em que os nossos pais nos orientavam dizendo exatamente o que era preciso fazer. Nunca imaginaram que as coisas podiam ser diferentes e nem tampouco nos deixavam a chance de decidirmos por nós próprios. Se ousássemos fazer algo diferente e o tiro saísse pela culatra, como era costume se dizer, aí então não éramos capazes de resolver nada sozinhos. E acreditávamos que era assim mesmo que as coisas aconteciam.
A primeira viagem que eu fiz sozinha, devia ter meus doze, treze anos, aconteceu o meu primeiro imprevisto. Meu pai era motorista de ônibus, nessa época e conhecia bem todos as empresas e motoristas. Então tudo o que eu devia fazer era simplesmente embarcar e esperar que chegasse ao destino e o motorista me dissesse: aqui é o fim da linha. Minha mãe me orientou para que eu descesse na rodoviária, fosse até a lanchonete do meu tio, que ele me levaria para casa. Não devia falar com ninguém durante a viagem, sob hipótese alguma. Havia uma sub-estação que ficava na entrada da cidade e lá estava a minha prima Nadja a minha espera. Ela me disse pela janela do ônibus, que era para eu descer e ir para a casa dela. Eu disse que não podia, pois a minha mãe havia dito para ir para a casa da outra tia. Então a minha prima argumentava: você não veio para o meu casamento? Eu respondia que sim. E ela então dizia que tanto fazia eu ir para a casa dela como ir para a casa da outra tia, que ia dar no mesmo. Eu não conseguia decidir, porque precisava fazer exatamente como a minha mãe havia dito que fizesse. E agora, José? José, para onde? (relembrando uma música que falava mais ou menos nisso). Tanto ela insistiu que eu acabei descendo uma estação antes do final da linha. Mas com a consciência pesada, por fazer diferente do que haviam me dito para fazer. Hoje eu oriento os meus filhos de forma diferente. Digo sempre a eles, que se houver um imprevisto (e eles sempre acontecem), saibam qual a melhor decisão a ser tomada. Para terem sempre um Plano B, caso o primeiro não der certo. E até aqui, isso sempre tem funcionado muito bem.
Débora Benvenuti
Nota: Em homenagem a minha prima, Nadje Naira
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