Crepúsculo das Palavras

 

Crepúsculo das Palavras

Portuguese

  

Anoitecia. Como sempre acontecia, as palavras também iam se aquietando, com o cair da tarde. O ar quente e morno, levemente adocicado, embalava os pensamen-tos e os faziam aflorar, como num emaranhado de sensações, onde cada palavra que fosse dita, possuia outro significado. E encontrar a palavra certa, quando ocerto era que não se sabia exatamente qual o senti do a dar a cada palavra, era um martírio. Havia tempos em que as palavras surgiam como que nascidas do nada e por acaso, borbulhando como se fossem bolinhas de sabão. Umas iam se sobrepodno às outras e cada qual, a sua maneira, iam criando um diálogo e dando vida a tantos sentimentos, como se tivessem vida própria. E tudo acontecia num piscar de olhos. A imaginação deixava-se guiar, sem muito pensar e lá se iam as palavras ganhando vida e dando vida a tantas outras.Mas de repente, algo aconteceu com as palavras e elas foram se perdendo pelo caminho, como se não soubessem mais aonde ir. Talvez estivessem cansadas.Cansadas? Quem foi que que disse que as palavras se cansam de serem repetidas? Para isso são palavras!Para serem ditas e repetidas tantas vezes quanto se deseje. E para isto, basta ser palavra. Mas palavra por si só não é palavra. Precisa vir acompanhada de algum significado. E que significado poderia ter a palavra que ainda não foi dita? Ainda estou a pensar...

 

Débora Benvenuti

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