Gato e rato
(Um bocado de queijo sozinho!)
- Ai que maravilha.
O rato avança destemido
Enquanto o queijo foge de mansinho
Puxado por uma longa linha
Num chão silencioso e sem gemido.
Acelerando o passo
Tropeça na fome
Bate com o nariz no chão
Levanta-se com embaraço
E com olhos de quem à muito não come.
- Ai que bem que ficavas no pão.
Enquanto ele pensa no saboroso queijo
O gato puxa o fio devagarinho
Trazendo até si o desejo.
- Já cá cantas ratinho.
Abismado com o queijo andante
Esfrega os olhos de admiração.
-Mas…! O queijo anda!?
Volta a acelerar o passo empolgante
E num salto voraz que anseia a satisfação
Volta a beijar o chão onde o cordel comanda.
-Mm! Estranho. Muito estranho.
Ergue-se nas pernitas trémulas
Ora de adrenalina, ora de surpresa.
O gato não se contém e ri-se de desdenho
Perante as tentativas falhadas e incrédulas
Dum roedor dominado pela incerteza.
- Este queijo dá luta.
Melhor lhe saberá a conquista
Mal apanhe o lacticínio esguio,
Caso o gato não mexa a pata
E ele não desista
Do queijo puxado com um fio.
Fazendo-se de distraído
Olha para o cesto da fruta e diz alto:
- Que rica fruta está ali.
Com medo de perder o pitéu trazido
O gato sobe precipitadamente num salto
A pensar: - Já o perdi.
O tempo que demora a alcançar o piso
O rato com uma faena desvia-se
Finta o gato e alcança o prémio.
Com um enorme sorriso
Agarra o queijo e eleva-se
Dizendo: - Eu sou um génio.
Ricardo Sousa
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