Um vento oriundo de Norte varreu o chão de mármore branco, fazendo com que algumas folhas caídas dançassem em pequenos remoinhos. Mas o que começou por ser apenas uma brisa suave e fresca, tornava-se agora em rajadas agressivas e gélidas, ameaçando que algo muito mais indesejável poderia tomar forma. Acordei de sobressalto, ofegante e com a testa transpirada. Senti uma dor de cabeça um tanto desconcertante, pelo que voltei a fechar os olhos. “Onde raio estarei eu? … E porque é que está tanto frio?” Pensei para comigo. Massajei as têmporas e tentei levantar-me, mas doía-me todo o corpo e mal me conseguia manter em pé. Dei dois ou três passos em frente, os meus joelhos cederam, e voltei a encontrar-me de novo no chão. Subitamente, rugindo do meio do denso arvoredo, uma vigorosa e ameaçadora rajada de vento atingiu o pequeno pátio onde me encontrava, espalhando um pouco mais as folhas e expondo as tijoleiras do chão. Apercebi-me de imediato que algo as manchava, o que prendeu ao de leve a minha atenção. Era uma espécie de… inscrições e símbolos antigos, debotados pelo tempo e pela meteorização, contudo ainda perceptíveis. Talvez se os conseguisse ler me ajudasse a orientar-me. Não conseguia lembrar-me de absolutamente nada. Estiquei o corpo e senti espasmos em quase todos os músculos. “O que quer que tenha andado a fazer valeu-me uma valente canseira! E também alguns arranhões” Constatei, ao ver que tinha as calças e a camisola rasgadas em múltiplos sítios. Por fim consegui reunir forças suficientes para me levantar e, uma vez de pé, olhei em meu redor. Anexada àquele jardim decrépito estava uma casa, também ela com um aspecto bastante degradado. Talvez em tempos tivesse sido uma bonita casa, parecia imponente, majestosa até. Mas agora, o negrume que dela se havia apoderado juntamente com as janelas partidas e umas quantas paredes queimadas, davam-lhe um aspecto um tanto assustador. “Será que estive ali dentro?” Este pensamento fez-me estremecer, deixando-me ainda mais desconfortável. Antes de me focar nas inscrições que estavam no chão lancei um último olhar ao pequeno palacete abandonado. Engoli em seco e constatei que não havia porta. Mas esta não havia sido retirada com delicadeza, certamente não por um carpinteiro. Fora arrancada pelas dobradiças, pois o eixo encontrava-se totalmente desfeito, madeira e ferro contorcidos numa amálgama pouco natural. A cerca de meio metro para dentro da casa, até onde a escassa luminosidade permitia observar, encontrava-se a maçaneta e um pedaço do que teria sido a porta em falta. De súbito, pelo canto do olho, pareceu-me ver movimento no andar de cima, na fachada leste do edifício, onde se encontrava uma janela meio partida. Fixei o olhar com atenção e não vi nada. Talvez estivesse a ter alucinações. “Se calhar bati com a cabeça. Isso explicava a dificuldade em lembrar-me do que aconteceu”. “Ou talvez seja o medo a tomar conta de mim” pensei, “Tenho que me abstrair e conseguir entender o que realmente se passa”. Inspirei fundo três vezes e olhei para o chão, focando-me no que quer que ali estivesse representado. Após um instante de observação, um horror abismal tomou conta de mim. Podia inspirar as vezes que quisesse que não conseguiria acalmar-me nem por mais um segundo. Cambaleie para trás, e nada pude fazer para reprimir o medo que se apoderava de mim. Apoiei-me nos joelhos para que não caísse de novo. Agora todas as minhas energias se dirigiam para aquela casa horrenda, e algo me impelia a afastar-me dela o mais que conseguisse, então, numa corrida desenfreada e sem rumo, aventurei-me para o meio da floresta. Não sabia onde estava, mas só sabia que não podia estar ali. Tão pouco sabia quantas horas eram, só sabia que não tinha tempo a perder…
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