Catarina era uma menina de 5 anos; oriunda do bairro mais pobre de Paris.
Seus pais eram agricultores pobres; trabalhavam dia e noite para que os seus quatro filhos pudessem estudar e ser doutores.
Mas a pequena Catarina sonhava ser organista. Todos os domingos ia à missa, sentava-se no banco pertinho do órgão e maravilhava-se com a harmonia com que o organista tocava: era espantoso e mágico. Mais tarde e com a ajuda de teclas desenhadas uma folha de papel, recriava as melodias que ouvira na missa.
Um dia, ao voltar da escola para casa, a pé, cruzou-se com o organista da aldeia. O velho João reconheceu-a de imediato: era a miúda que, todos os domingos, roubava um lugar do banco reservado ao coro da Igreja.
- Como te chamas, miúda?
- Catarina, senhor.
- Explica-me lá uma coisa: és beata ou vais-te sentar no banco do coro só para chatear?
As beatas eram senhoras de idade avançada que passavam muito tempo na Igreja e que coscuvilhavam sobre tudo o que acontecia na aldeia. Catarina não gostava nada das beatas.
- É para aprender a tocar, senhor. Não sou beata!
O velho e barrigudo João solta uma gargalhada bem-disposta; não esperava uma justificação tão inocentemente irreverente e gostou de saber que mais alguém partilhava da sua paixão pela música. Fê-lo recordar os seus tempos de jovem tresloucado e amante de música clássica, motivo óbvio para piadinhas e gozo de miúdos e graúdos do seu tempo.
- Queres aprender, hein?! Tens dinheiro?
- Não, senhor.
- E os teus pais?
- Acham que é dinheiro mal empregue: preferem que eu seja advogada.
- Hum, está bem. Eu ensino-te, mas tens de aprender e decorar tudo à primeira e treinar até os teus dedos sangrarem; não quero perder tempo contigo.
- Oh, sim, sim. Muito obrigada, senhor.
Nesse dia, Catarina compreendeu o que ‘chorar de felicidade’ significa.
A Catarina começou as aulas: todos os dias, depois da escola e até noite, ficava em casa do velho organista a ler/decorar partituras e a praticar. Regressava a casa quando os pulsos e os dedos das mãos se lhe paralisavam com a rigidez dos músculos que se fortaleciam a um ritmo demasiado abrupto.
Hoje, com 25 anos, a Catarina é pianista na orquestra filarmónica de Paris; preforma recitais em eventos culturais internacionais; foi galardoada com vários prémios, entre eles o de Jovens Músicos.
Todos os Domingos, volta à sua pobre aldeia; toca órgão na missa do meio-dia e sorri para o pequeno rapaz sentado no banco do coro e com olhos meigos fixos no órgão.
Fim
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