Seu nome era alguém.
Alguém qualquer, com medo, com raízes frágeis, e muita bagagem.
Alguém, um belo dia resolveu conhecer o mundo.
Percebeu que na mala que podia levar, não cabia muita coisa.
Separou sapatos, roupas, livros, maquilhagem, amontoados de lembranças de pessoas que nem via mais, saudades em excesso, "apegos" no tempo e no vento.
Viu que o excesso de peso a impedia de caminhar e aos poucos foi jogando fora tudo o que acreditava ser dispensável. Mesmo assim, a mala do alguém permanecia cheia.
Decidiu ir aos poucos abrindo mão do que possuía.
Dos sapatos ela não precisava de muitos, a caminhada era longa e a estética era passageira. Sempre soube disso. Tirou algumas dezenas de pares.
Das roupas, percebeu que precisaria de tudo novo: no inverno casacos novos, aqueles que possuía já estavam gastos e não suportariam as chuvas.
No verão, as roupas não eram leves, panos leves bastavam. Não precisava de muitas. Afinal eram só alguns meses de verão.
Das pinturas de rosto, quase nada lhe servia mais, precisava de cores novas, estava tudo gasto e sem vida.
Os livros, deixou-os todos para trás, eram só papeis, as lições e ensinamentos estavam na memórias.
As lembranças presas ao vento e ao tempo, se desfez delas. Desatou os laços que a prendiam ao passado e as más lembranças. De nada valiam.
Se lembrou que as pessoas que a amavam a amariam em qualquer lugar, em qualquer tempo e sempre se lembrariam de mandar uma carta dando notícias e também as pedindo.
A vida velha lhe servia de passa tempo, repleta de tralhas e frustrações.
Separou uma pequena mala, no canto algumas peças de roupas e alguns objectos básicos. Vestiu-se de coragem e de um antigo casaco castanho.
Nos bolsos levava uma caneta e um antigo papel com um número de telefone escrito: Te amarei incondicionalmente.
Cortou as raízes velhas, descobriu as asas e entrou no trem. Alguém, ganhou um nome e já se imaginava largando tudo outra vez pra recomeçar tudo de novo em um novo trem a cada vez que fosse preciso, ela já sabia que não precisava mais acumular pesos a cada estação.
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A FÓRMULA DO ACASO
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