Teu olhar de aço puro e frio cruzou com o meu naquele dia soberbo
e solarengo;era o dia do meu aniversário, mas tu não sabias.
Como poderias saber, se eras para todos um desconhecido,
um mero passageiro do metro, tal como eu?
Houve uma chispa na troca dos nossos olhares…
Levantaste o queixo, altaneiramente, vaidoso do teu semblante,
do teu fato “Pierre Cardin”, que te assentava como uma luva.
Impressionada, olhei de novo, agora de soslaio, para o teu porte alto e elegante.
Não precisavas de te esforçar para chegares à trave que te permitia
um equilíbrio ainda mais seguro, do que aquele que já sentias.
Encolhi-me no banco, reduzida à minha insignificância, olhando
as calças de ganga coçadas, as sapatilhas desgastadas pelo uso,
de uma marca qualquer sem importância. Senti-me um rato
fora da toca, com o “gato” prestes a atacar e sem saber para
onde fugir, naquele metro, naquele dia solarengo.
Lá bem no fundo, a chispa tornou-se brasa, e toda eu estremeci.
O metro parou, num solavanco repentino, e eu, desprevenida, fui projetada.
Os teus braços agarraram-me com força e seguraram-me como quem segura
uma pluma branca, um pluma usada na escrita antiga. Fiquei quieta.
Não queria que o teu braço forte me soltasse. Eras a prenda do meu aniversário.
NATALIA VALE
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