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A Periquita era uma anã que vivia na cidade onde eu morava, quando criança. Este não era o nome dela e ela detestava que a chamassem assim. Andava pelas ruas sempre com uma sacola e jamais se desfazia dela, porque ali eram guardadas as ferramentas das quais ela fazia uso, quando alguém ousava chama-la pelo apelido. O nome dela, ninguém nunca soube. Acho que ela também não sabia. Um dia um amigo nosso inventou de gritar o nome dela, quando ela ia passando e correu para casa. A Periquita correu atrás dele e não teve dúvidas no que precisava ser feito, com a ofensa recebida. Parou em frente à casa e quebrou todas as vidraças, uma a uma, com as pedras que retirava da sacola. Nós sabíamos que não deveríamos chamá-la assim, porque a resposta vinha em seguida.
Meu pai nessa época, trabalhava em uma empresa de ônibus e sempre o deixava estacionado em frente à nossa casa. Depois do almoço, enquanto nossos pais sesteavam, eu e meus irmãos nos escondemos dentro do ônibus, para esperar a Periquita passar. Não demorou muito e ela apareceu. Abrimos um dos vidros do ônibus e gritamos: Periquita! E nos escondemos. Ela olhou para todos os lados e não viu ninguém. Esperamos ela se distrair e gritamos novamente. Como ela não sabia de onde vinha a ofensa, resolveu sentar e esperar. Aí a coisa ficou complicada. Queríamos sair de dentro do ônibus e não podíamos, porque tínhamos uma guardiã à nossa espreita. Se saíssemos. Ela logo perceberia quem havia gritado. Então, passamos várias horas de castigo dentro do ônibus, sem conseguir sair. Acho que ela cansou de esperar e foi embora. Depois que ela se foi, respiramos aliviados e saímos. Com certeza, aquele esconderijo não era dos melhores... Naquele momento, não tínhamos mais nada para nos ocupar e a tarde inteira pela frente, para fazermos arte, sem que a nossa mãe ficasse sabendo. Sentamos nos degraus da porta da casa e ficamos ali conversando. A rua da nossa casa era uma ladeira, não muito íngreme, mesmo assim, perigosa. Num determinado momento, vimos que o ônibus deu um suspiro e andou um pouco. Ficamos observando e pouco a pouco, o ônibus começou a descer a rua. Corri para avisar o meu pai e dizia assim para ele: Pai, corre que o ônibus tá andando sozinho. Ele achou que era brincadeira e não fez nada. Então o meu irmão maior, de nome Naor, correu e conseguiu entrar pela janela do motorista e frear o ônibus. Ninguém sabe como ele fez essa peripécia, pois ainda era uma criança, com seus dez ou onze anos. Fazíamos muitas artes, mas também sabíamos quando tínhamos um problema maior.
Débora Benvenuti
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