Poeira Cósmica

 

Poeira Cósmica

Portuguese

Poema 1:  Tempo

O Homem mediu o Tempo,

o Tempo impôs-lhe a Hora, veloz corre ela…

Manda-nos embora, Parece que o Tempo não passa;

vêm as Memórias,

Fica o Tempo, pára a Hora.

Ficámos escravos da nossa medição; senão fosse essa, qual seria a razão

para sentir saudade do Futuro que espera,

Quando do Nada, Passado já era?

Talvez seja esse o nosso Destino, Fugir do Mundo é tão Pequenino…

E o Tempo levou-nos, através dos Séculos a ver as galés.

Chegaram…Partiram ...Cais despedaçado...

De nada serviu medir o Passado,

Mas volta o Mundo à realidade, senão fosse a Hora

Aonde cabia a Saudade?

Poema 2:  "Eu, Ricardo Reis e Álvaro de Campos"

Partimos os três, 

Ricardo, bucólico;  Álvaro, decadente; Eu, perdida;

Fugimos às máquinas, Álvaro; Fugimos ao mundo, Ricardo; Fugimos a mim;

Ricardo, estóico;  Álvaro, opium; Eu, perdida;

Fomos ao interior do mundo, Ricardo; e vimos Lídia (enlaçamos as mãos);

Masoquismo, maquinismo, Álvaro; Lisboa revisitada;

E eu, perdida.

Corremos e não sentimos; vivos-mortos,

Para sempre Ricardo Reis;

deixa Lídia (desenlacemos as mãos);

Sofres, Álvaro de Campos

ao som das onomatopeias a ti atribuídas,

deixaste o Mestre para Sempre!

E Eu…..Perdida!

Poema 3:  Aguardela”

Os Deuses erráticos que nos criaram

roubam sempre aqueles que amamos,

Ontem, levaram mais um Poeta

para esse local secreto,

só por eles conhecido.

Talvez, por não sermos nós, merecedores

de conviver com seres tão superiores,

que só pertencem a esses Deuses.

Nas palavras de outro Poeta:

“Houve um Crepúsculo sem Deuses”

Poema 4:  “À Vida tirei a Morte”

À Vida, tirei a Morte

À Alegria, a tristeza,

À Realidade, a mágoa,

Ao ódio, prenha dele existo.

Ao Amor, tirei o coração;

deixei-o num lago de espelho despedaçado,

jazia num emaranhado de sangue e pedaços de imagens desaparecidas.

Ao Amor, tirei os espinhos, apertei-os na mão e disse “Tomai-os”, ficaram as rosas cravadas nos pés; descalços, numa praia imaculada, onde não estive e aí repouso.

Aos olhos apenas vejo reflexos do que já foram,

Não há presente ou futuro, apenas seguem, cegos, escuros,

Nada levo que não seja só de passagem, miragem num templo de vidro,

Viagem perdida nos anos, portas e janelas cerradas, como cegos e mortos,

Estes, que me acompanham.

Poema 5:  "Teresa"

Faço castelos de Ar, luto contra moinhos de vento;

Não há D. Quixote, não há Dulcineia

No entanto, já senti o sopro da Morte.

Vim ao mundo com fome de Vida; A Vida retribuiu-me com abundância,

No entanto, já senti fome, já senti Ânsia.

Deram-me a crer que não tinha força; Ironia ou não,

é com ela que vivo, luto, enlouqueço, não esqueço.

Não saberia que ao nascer, ver-te; seria ver-te morrer.

Sobrevivi, matei o Gigante;

Tornei-me Mulher; olho o mundo de Frente.

Trago comigo o Dão no ventre,

é nas entranhas, no seu afluente,

sinto-o tão escarpado como a Beira,

tão rebelde como a sua Gente.

Poema 6:  "Molière"

Quis Molière ensinar; Dando pancadinhas, mais de 3, é certo,

Ao incauto espectador, o lugar a tomar, quando o palco se encher; E o espectáculo começar...

Mas tal ideia de bater no estrado, não deu resultado.

Não se obriga a quem não quer sentar, a tomar lugar sentado.

Esqueceu-se também, o Pobre Autor, de avisar o fim, pois se o Teatro tem várias portas;

Nenhuma é a saida, são todas entradas.

E o incauto espectador, não sabendo a Trama, nem o Autor, pode; A qualquer momento, para grande tormento; Errar a saída e entrar na entrada.

Não sabendo se se despede ou cumprimenta, se saí ou se se senta.

Tentou, pois, Molière pôr ordem aonde esta não existe;

Há quem goste de Drama ou Comédia ou Circo, mas fique o leitor, ciente disto:

Só Moliére ficou famoso, pelas pancadinhas que deu;

Não deixando obra lembrada, pelos óciosos critícos, que viram na sua entrada, mais uma porta de saída!

Para casos menos honrosos, avisam –se os espectadores: "Que o melhor é despedir-se à entrada e saudar à saída!!!"

 

 

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