Vómito Insípido

 

Vómito Insípido

Portuguese

Eles não vão saber
Ninguém vai

Eu falo sobre tudo isso
Sem nada entender

Sobre o amor
Mas já não o sinto
Talvez nunca o senti senão em forma de dor
Talvez minto

Sobre a experiência
Mas não as tive
Talvez invento por inventar, por impaciência
Talvez invento mais do que  quem as vive

Sobre a esperança
Mas nela não acredito
Talvez por causa desta incansável matança
Talvez por nada corresponder ao que sempre foi dito

Sobre o que é belo, lindo
Mas belas são apenas as palavras
Talvez por, neste mundo de símbolos, 
Estar completamente perdido 
Ou talvez por este mundo estar apinhado
De farsas e pessoas mal tratadas

Por fim sobre a superação e o limbo,
Mas superação desconheço e, na escuridão, 
Não sei se existo
Talvez por utilizá-la como arma e inspiração
Para criar o que me é lindo
Talvez por abusar destes demónios que, aqui, 
nada veem e que, por mim, nunca são vistos

E neste despertar de bom senso,
Perguntam ainda o porque do mundo do poetar ser o mais intenso
Respondo, mas não correspondo ao que penso;

Talvez porque o poeta é também estrela nesse universo,
Que a escuridão almeja,
Banhando de luz os mais diversos corpos,
Do mais isolado cometa
Ao mais próximo planeta

Talvez porque o poeta nada mais é que a leve hipocrisia
Por fora despida, mas fardada interiormente de razão
Que é trazida pela mais leve brisa, ou pacata maresia
Mesmo estas provindo das mais desprovidas fontes de paixão

Talvez porque as suas mentiras não passam de ironias e manias
que o mundo, cego para o óbvio, interpreta como monstruosas epifanias

E pensam vocês que o poeta é poeta,
Quando são vocês, fluxo mentecapto incansável,
Os grandes poetas,
Fazendo do óbvio uma ilusão incontrolável,
Se afastando das estrelas e de seu brilho
Por medo de também caírem no interno abismo,
Inspirando os que apenas decidiram caminhar entrelaçados
com os seus demónios, numa terrível canção
Mesmo sendo vós o esgotar da paixão

E dizem vocês que o poeta vê onde não há
Quando são vocês, pausa intangível no ar,
Que veem beleza em palavras que, mais do que o óbvio,
Nunca pretenderam demonstrar

Serei eu louco
Ou o belo mundo é que faz de si pouco?

Enquanto isso não enxergarem, sim...
Serei eu o louco
Mas eles, os outros, completamente ocos

Cansados neste caminho que sempre converge para a mesma ilusão,
Caminho que eu também compartilho, mas que não trilho em vão.
E o segredo não poderia ser mais simples;
Certificar-me de que aqui andei, amei e pertencerei,
Pelo sim, ou talvez pelo não.

 

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