O Tempo vinha andando pela estrada,
sentindo-se já muito cansado,
com as correntes que carregava,
amarradas na sua roupa já surrada,
um tanto amassada de tanto
atravessar os pântanos,
a procura de uma amada.
Sentia-se sozinho e confuso
aquela hora do ocaso,
em que não se sabia
se era noite ou dia claro.
Adormeceu,
logo que surgiu a primeira estrela
e acordou ainda com a lua cheia,
a iluminar a clareira,
onde fizera a sua cama,
nas gramas fofas e altaneiras.
Aspirou o perfume das flores,
que a brisa suave do vento
carregava docemente.
Imaginou a Lua cheia
sendo a sua companheira,
em vez de deitados naquela relva,
poderiam passear e ver as estrelas,
adormecer nas nuvens
e vagar pelo tempo e pelo espaço,
já que tempo ele teria
o tempo inteiro.
Mas será que a Lua Cheia
aceitaria ser sua parceira?
O que faria com as correntes
que arrastava o tempo inteiro?
Relutou por um momento,
enquanto observava os carneiros
que passeavam pelo céu,
como simples aventureiros,
enquanto a brisa soprava e se divertia
com cada imagem que formava,
e a Lua cheia apenas observava,
o rebanho que aumentava.
Imaginou quanto tempo levaria
para apascentar tantas ovelhas,
e assim distraído não percebeu
que a Lua cheia já não era cheia.
Imaginou-a então perdida
em meio aquele céu de estrelas.
Percebeu que alguma coisa estava errada,
pois a sua amada estava desfigurada.
Daquele brilho todo,
só restara uma imagem borrada.
Desistiu de contar os carneiros,
pois uma simples distração
roubara a sua amada
e a deixara com a face acinzentada.
Uma namorada que assim se transformava,
não poderia ser uma boa companheira.
Assim, calado e decepcionado,
recolheu as correntes e continuou a vagar pela estrada,
enquanto ainda era madrugada...
Débora Benvenuti
http://oacendedordecoracoes.blogspot.com.br
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