Lucidez

 

Lucidez

Portuguese

E foi então que ele lhe disse

Que ela tinha momentos tão lúcidos

Que a levavam a encontrar, num ápice,

O cerne de todo o seu sofrimento.

Esses momentos assustavam-na, mas ela sorria

E apaixonava-se…

Mas assustava-se, com a efemeridade do enleio

Que voava leve naqueles crepúsculos tardios.

Mas apaixonava-se, cada vez mais distante

Num querer relutante, um amor cada vez mais desesperante!

Mas sorria… conquanto que ele a questionasse, curioso,

Sobre os seus pensamentos naquele instante

Sobre a sua arte daqui a uns anos,

Sobre os monstros que ainda via

Sobre os anseios do seu espírito,

Sobre a sua vida.

Era apenas isso: questionar-se sobre ela.

O mero interesse que ele nela mantinha

Alimentava a sua força, retirava-lhe o desgosto

E colocava, novamente, as palavras na sua boca

E a sua alma no papel.

Porque ser poeta é ser um filtro, é ser livre e transformar

A inquietude das palavras de outrém, no silêncio do desejo eterno.

 

Obrigada.

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