E foi então que ele lhe disse
Que ela tinha momentos tão lúcidos
Que a levavam a encontrar, num ápice,
O cerne de todo o seu sofrimento.
Esses momentos assustavam-na, mas ela sorria
E apaixonava-se…
Mas assustava-se, com a efemeridade do enleio
Que voava leve naqueles crepúsculos tardios.
Mas apaixonava-se, cada vez mais distante
Num querer relutante, um amor cada vez mais desesperante!
Mas sorria… conquanto que ele a questionasse, curioso,
Sobre os seus pensamentos naquele instante
Sobre a sua arte daqui a uns anos,
Sobre os monstros que ainda via
Sobre os anseios do seu espírito,
Sobre a sua vida.
Era apenas isso: questionar-se sobre ela.
O mero interesse que ele nela mantinha
Alimentava a sua força, retirava-lhe o desgosto
E colocava, novamente, as palavras na sua boca
E a sua alma no papel.
Porque ser poeta é ser um filtro, é ser livre e transformar
A inquietude das palavras de outrém, no silêncio do desejo eterno.
Obrigada.
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