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Para quê etiquetar o que não tem nexo?
Seria bom que fosse um belo devaneio surrealista
com sangue, suor e lágrimas
e risos e paixão e sexo
não necessariamente por esta ordem.
Mas não é.
É somente uma sopa morna
quase fria
que engoles maquinalmente.
O ranço e o azedo
já estão entranhados.
Um cantil de água
que sonhas num deserto
pode não passar de um sonho
mas
é mil vezes preferível
a uma migalha pequena
porque real
ou de forma inversível
a uma migalha real
porque pequena.
Um peixe nada no oceano
em constante mutação
e assim encontra outros peixes
com quem nadar.
Nada mais perverso
que comer a migalhinha
E dizer obrigadinha.
Catarina Veloso
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