O tempo do horizonte intemporal

 

O tempo do horizonte intemporal

Portuguese

Ela segue... Não há nada que a possa prender aqui. Não há nada que a mantenha aqui. Só há uma coisa que ela tem a certeza de que existe mas que, na verdade, mantém a impossibilidade de existência. Sabes o que é o horizonte? Ela também não. Mas sabe que ele está lá. Sempre e em qualquer lado para qualquer lado de qualquer lado que ela olhe. Então é essa a motivação: seguir em frente. Sempre na busca do horizonte.

Mas quando não se sabe o que ele é, mesmo que ele esteja lá, seguir é um risco. Mas o que será mais desafiante do que correr riscos? Qual é a maior adrenalina da vida para além de viver? Correr riscos faz dela a maior força de vontade. Ela quer seguir em busca do que ela sabe que está à frente dela mas que, ao mesmo tempo, se afasta à mesma velocidade dos passos que ela dá. Mas é tudo como o tempo. Não pára de correr, mas quando paramos em frente a um relógio, o relógio está parado. Os ponteiros movem-se, mas o relógio está parado. Intacto. Na parede ou no pulso. O tempo não pára, não. Mas nós podemos estar parados perante ele. E isso tem alguma razão de ser a não ser a razão de nada ser nesse instante? Ora sigam. Sigam sempre em frente que o tempo é que nos comanda.

Ela pára e vê o horizonte parado. Mas ela dá um passo, e o horizonte parece dar um também. É assim, ele foge de nós porque não nos quer com ele. Porque ele, na realidade, não existe. Mas na nossa realidade individual existe sempre e nós continuamos a tentar ir ao encontro dele como ela vai. Mas ele não deixa! E eu acho muito bem que não. É isso que continua a dar-nos força para irmos atrás dele, como se nos sentíssemos com raiva da estupidez dele ao fugir de nós sem qualquer motivo. Do tempo digo o mesmo. Ele não pára, corre à nossa frente à mesma velocidade que a nossa vida segue o caminho. Vamos todos seguir então. Parar, para quê?

Ela não pára... Ela segue... E ao mesmo tempo, cultiva-se por cada pedra da calçada por onde passa. Porque ela está a viver cada segundo dela, está a aprender com cada passo que dá, com cada queda que tem e com cada gargalhada que solta. O passado e o futuro não a assustam. O que seria se assim fosse! Não não. Ela segue, segue, segue... E segue à mesma velocidade e ao mesmo tempo que o tempo e a velocidade vão. Pensando no passado e aproximando o futuro está a ser (ou a tentar ser) mais rápida que o tempo. E não é isso que ela quer. Assim não dá! De tal modo o horizonte se torna mais rápido também e foge de nós com mais garra ainda. A distância que ela tem do horizonte é sempre a mesma, seja a que velocidade for. Então se ela se apressar a viver, perde a intensidade das coisas e mais rapidamente foge dela o horizonte. Se assim é, ela segue... Segue sempre no presente, vive cada passo e respira cada segundo. Leva em si cada pedaço do vento que lhe bate na cara e cada pegada marcada no chão é uma lição dela. Uma lição do tempo. E cada marca dessas será uma marca para ela reviver numa altura específica: quando ela encontrar o horizonte e se confundir com ele no mesmo tempo e no mesmo espaço; nessa altura, ela pode pensar em cada choro e em cada sorriso, cada marca no chão e cada pétala no cabelo. Aí, nessa altura, haverá tempo para o tempo se desvanecer no tempo e permitir que ela vá ao encontro do tempo passado. Até lá, ela segue... Segue a cada passo e a cada segundo. E é feliz, parece-me.

Não sei mais dela. Ela seguiu. Mas seguiu e não quer mais saber do que deixou comigo. Esta pegada dela que eu vi, ela não a verá mais. Porque segue...

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