A lua, cheia, reflecte um rio de prata que rasga a cidade adormecida. Natacha caminha no sentido inverso, esquece o destino e do outro lado da lua segue oculta pelo negrume da noite. Perde-se a si mesma e desliza para onde os amantes da luxúria, seres de alma gelada se tornam, para si, presas fáceis, ainda que se julguem imunes ao sentimento. Traídos pelo desejo, os sentimentos destes indivíduos são violados pela rápida dependência do amor, do afecto, e do carinho selvagem que paradoxalmente Natacha lhes oferece. Um festim onde o êxtase é morto no momento em que ela observa o seu reflexo nos olhos de quem estava próximo do orgasmo. Rouba o sonho a quem, por ela, acreditou no amor eterno e rasgada a alma de mais um desconhecido, rejubila de prazer.
Entra no vazio, assaltada pela culpa regressa onde deixara os restos de um coração destroçado, e apenas com um único golpe alivia a sua consciência, deixando o sangue fresco, quente, a escorrer lentamente pelas suas mãos e tornando as suas unhas rubro negras. Absolvida pelos seus actos por uma estrela solitária que lhe sorri em silêncio, Natacha queima os restos mortais do individuo numa pira de velhas recordações. Apanha boleia de uma libélula negra e num vôo rasante espalha as cinzas de quem nunca soube o nome sobre uma cidade que desconhece.
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