Vidas deste ou daquele

 

Vidas deste ou daquele

Portuguese

Perdi a visão.

Fiquei só no meu sentir,

Sócio unipessoal da minha percepção.

Olhos que não vêem nem sabem o que perdem.

Perdem os sonhos, como os perdem os que não descortinam

Não se pode ir com muita sede ao pote

Para não morrer pela boca,

Como o peixe.

Por vezes, há que fechar os olhos,

Resistir à tentação do feixe.

No fundo, permanecer na toca

Com menos olhos que barriga.

_________________________________________________________________

Estarão certamente a par

De que, que por razão de seus dois,

Raúl era verdadeiramente ímpar

No que respeita a colhões.

Já em ocasiões diversas

Havia tratado da tosse

A fulanos, que de espertos,

Passaram a indizíveis cagões.

Mas um dia cansou de ser persa entre romanos,

E dessa feita, partiu atrás da felicidade.

Morreu passados dois anos,

Porque não sabia ser feliz.

______________________________________________________________________

Quando se tem vida de cão

Dá jeito ter paciência de monge,

Sem hábito algum, senão

O da ciência de se manter longe

Dos marcos do correio.

Pois já, por uma vez, recebi cartas

Que cheiravam a xixi,

E que traziam no meio

Marcas com dégradés em tons caqui!

__________________________________________________________________________

Tenho a impressão digitada
No teu rosto,
Que a almofada não apaga;
Nem é suposto.
Uma errática fruição
Do ar que respiras
Dá lugar à problemática aferição
De que as mentiras
Desvanecem com a alvorada.
Tenho a tua mão estampada
No meu rosto.
Sem a comiseração da almofada,
Resta-me aguardar por outro encosto.

_______________________________________________________________________

Mundo adverso de perverso teor.

Simpatizo com a sabedoria,

Alegra-me um verso.

Depois, desperto da fantasia.

Vai tudo por água abaixo.

Esvaia-se a empatia,

E eu já não sei nem acho nada.

Maus lençóis, cheios de rasgões.

Saio da cama e vou de cana

Com a multidão.

_____________________________________________________________________

 

Acabasse a minha liberdade

Onde começa a tua,

Jamais sentiria a felicidade

De te ver nua.

Mesmo que amarrado à cama.

Type: 
Top